Tem dias que é muito difícil ser psicóloga e saber ler. Ou ter consciência das coisas e não poder dar uma surtadinha por aí. Eu fico muito feliz e grata que as pessoas estão cada vez mais perdendo o preconceito com a psicoterapia e de fato procurando ajuda. Mesmo assim existe um caminho muito longo pra ser percorrido. Afinal a vida e a sociedade são um grande lençol de elástico: ajeita de um lado, solta do outro.
Sei que ninguém é obrigado a saber de tudo e me entristece ver o quanto de gente que vai nesse papinho usado erroneamente pelo sistema e sabemos muito bem o motivo por trás. Uma coisa que explico com mais frequência do que gostaria é: nem tudo é diagnóstico. Se há dúvida porque as coisas atrapalham enormemente todos os aspectos da sua vida: por favor vá INVESTIGAR. E eu te imploro… não se autodiagnostique por conta de se identificar com um vídeo do tiktok que fala um monte de baboseira mas que você ouve e pensa NOSSA EU TAMBÉM! ACHEI QUE FOSSE SÓ EU!!!! Nem tudo é sintoma meu queride leitore.
Sofrimento psicológico NÃO É o mesmo que ter um diagnóstico.
O sistema quer que você pense que tudo é doença. Queria ficar horas falando sobre DESPATOLOGIZAR a vida, mas te convido a dar uma pesquisada mais aprofundada sobre o tema caso te interesse. Isso significa também que NEM TUDO exige medicação. Mas se você PRECISAR TOMAR, tá tudo bem também, não é o fim do mundo.
Agora vamos a um outro problema que vem de um construto social: a famosa reta final.
Odeio com todas as minhas forças a RETA FINAL porque ela simplesmente NÃO EXISTE, mas as pessoas num geral têm isso como base pra TUDO na vida. Como se assim que cruzá-la, tudo permanecerá ad eternum em um estado imutável. E aplicam isso com a saúde mental, usando o TERAPIA EM DIA. Explico: tem gente que acha que fazer terapia é resolver todos os seus “problemas” e assim nunca mais sentir nada ruim. Como se os problemas fossem zerar e a vida será plena e cheia de flores cheirosas e unicórnios desde então. Se hoje estou triste, vou fazer terapia até atingir a felicidade e assim serei apenas feliz dali pra frente.
Eu conto ou vocês?
Pra simplificar: nada é eterno. O que sentimos muda. O que somos muda. O que gostamos muda. Os motivos que nos fazem sofrer mudam. Impossível ter “terapia em dia” quando vivemos numa transformação constante até o dia da nossa morte amém. Não existe CURA e muito menos PERFEIÇÃO.
Mas o papinho do terapeutizado vai além. A galera vai, faz terapia e acha que entendeu tudo. Mas entendeu tudo pra obviamente usar ao seu favor, mesmo que isso passe por cima dos outros. Geralmente são homens (os poucos que ainda se submetem a cuidar da saúde mental) que usam frases do tipo “mas isso é você que tem que lidar”, “leve pra sua terapia” e outras coisas pra tirar o próprio cu da reta e nunca tomar responsabilidade pelo que faz e o que sente, esquecendo seletivamente que vive num coletivo e suas ações afetam outras pessoas.
Que ótimo que você faz terapia, continue! (faça comigo, me indique pras pessoas fazerem também por favor eu preciso pagar contas) Mas cuidado com o papinho. E bom lembrar que nem sempre isso quer dizer muita coisa. Como diria o meme: até Tony Soprano tinha a terapia em dia e olha no que deu né. É que cada um faz terapia pra si. O processo é único, individual (sem desconsiderar coletivo) e a pessoa só vai falar aquilo que ela quiser, do jeito que ela quiser. O que é problema pra você, pode não ser pro outro. Se seu namorado é um bosta, não adianta mandar ele pra terapia pra ser “consertado” para que ele se transforme exatamente naquilo que a sua expectativa gostaria que ele se tornasse. Imagina ele começa a terapia e descobre coisas sobre si e vai lá e termina o relacionamento com você? Duvido que a “culpa” seja da terapia…
Assim como nem tudo é “burnout”, nem “hiperfoco”, nem “tdah” etc etc, nem tudo é resolvível com terapia (vide desigualdade social, falta de supor econômico/saúde etc etc). A terapia não faz milagres. A terapia não resolve tudo sozinha. Sua psicóloga também é gente e tem muita coisa que nem é obrigação dela no processo… é sua! Quem faz terapia não é um ser superior e evoluído que nunca mais vai errar e nunca ter problemas e questões difíceis.
Estar com “a terapia em dia'“ não garante ninguém ser alecrim dourado. Nem que seja “fácil de conviver”, pessoa legal, bacanuda, toda galera. Sério, desconfie. Não importa quantos anos de terapia alguém faça, nós vamos continuar sendo humanos até o dia da nossa morte. E isso significa ser ambivalente, hipócrita, sofrer, errar, ser o vilão da história do outro, ser egoísta e trouxa, gostar de quem não gosta da gente, escolher o caminho mais difícil só porque sim, não enxergar o óbvio, chorar de raiva, ser pego desprevenido, se odiar e se amar na mesma intensidade enquanto tentamos seguir sobrevivendo a tudo isso. Fazendo o melhor possível (ou nem sempre).
Desconfie do terapeutizado mas não deixe de fazer terapia! (inclusive vamo? tenho vagas)
Vai ter espresso pequeno pois minha tv e meu computador quebraram e estou sem dispositivos para assistir coisas :(
Hellboy: The Crooked Man acompanha hellbinho e uma agente da BPRD numa vila rural que está sendo assombrada por bruxas e pelo homem torto. Só que o filme é torto inteiro, que troço detestável de ruim que ódio pois amo hellboy dos quadrinhos e do del toro. Quem aprovou esse lixo?
Ganymede um jovem de família religiosa e conservadora mas que acaba sentindo atração por um colega gay. Rolam assombrações enquanto lida com essa nova descoberta sobre si. Achei ruim, achei problemático, achei que só tentou ser terror mas falhou. Achei que devia ter assistido outra coisa. Mirou no lacre, acertou no “desculpa por ser estadunidense”.
Hell Hole mostra uma galera cavucando fundo na terra até descobrir o corpo de um soldado francês enterrado a muitos anos mas que acorda com uma criatura maligna que infecta pessoas. Esse aqui tentou muito ser uma mistura de muitas coisas e falhou em todas elas. Estava hypada por ser dos diretores de Hellbender mas isso aqui é HORRÍVEL. Só tem bons efeitos.
Knife+Heart tem um serial killer que persegue uma produtora de p0rn0 gay e todos os seus envolvidos, matando um por um. É tesão no cinema, é mistério, é desconfortável, é várias coisas que funcionam bem juntas. Bom filme, vale ver!
Nobody Wants This é mamão com açúcar com várias problemáticas e eu tenho pena de quem acredita nesse tipo de amor romântico que é mostrado com rostinhos bonitos e idealizações que na prática não funcionam. Fiquei irritada mas sentaria muito no Adam Brody & na Kristen Bell.
Falou tudo! Tô cansada do papo "terapia em dia" justamente por isso: as coisas mudam. Hoje ce tá bem, mas amanhã pode não estar, e aí?
Aprender que as coisas oscilam, pro bem e pro mal, dá certa paz. (e desaprender na terapia que é tudo extremo, se não tô feliz, eu tô triste, etc).
Adorei o texto, amiga <3