A onda de conservadorismo nunca vai embora totalmente. Ela vai e volta, alternando entre tópicos específicos que estouram em discussões sem argumentos e depois somem pras sombras aguardando o próximo absurdo tomar conta.
A maioria de nós passou pela situação de assistir algo com um parente e em qualquer cena de pegação um pouquinho mais quente, uma mão ligeira vai ao controle imediatamente para mudar de canal. Quanta pouca vergonha, melhor nem ver pra não ser influenciado… mas convenhamos, funcionou?
Botar algo como tabu, nunca fez muito para além da curiosidade dos outros e criar meias verdades para proibições infundadas. E colocar o sexo de volta de novo e de novo nessa pauta é inútil, as pessoas não aprenderam nada né? Na verdade as pessoas ainda precisam aprender muito sobre sexo e afins.
Volta e meia, retorna o questionamento (que nem deveria ser uma questão) de qual a necessidade de cenas de sexo nos filmes, séries e afins. Saiu um estudo estadunidense onde a geração z revela não querer ver cenas de sexo, preferindo romances platônicos contribuindo para o boom dos doramas onde em uma temporada, demora-se quinze episódios para os protagonistas pegarem na mão um do outro… quem dirá beijar… transar então, pra quê?
Eu entendo que não é todo mundo que sabe diferenciar (ou se interessa por aprender) cenas que objetificam corpos gratuitamente de obras que exploram a sexualidade sem ser ofensivo. E me revolta que ainda, de novo, em pleno 2024 o sexo ofenda tanto. Posso botar a culpa na igreja e no capitalismo? Acho que sim, né?
Libido e sexualidade vão para além de transar. Não precisa pegar Freud pra ler pra saber disso. Mas vale ressaltar a questão de CONDIÇÃO HUMANA (sim mesmo quem é assexual e afins) para além das construções sociais. Maslow botou o tesão ali na base da pirâmide das necessidades básicas e instintivas. Mas esses são só detalhes, o que importa é: sexualidade faz parte da vivência humana (sim vou repetir).
Desde que o mundo é mundo. Desde que o humano é humano, os bicho são bicho etc. O desejo sempre existiu e vai continuar existindo, mesmo depois que virou pecado. Aqui não vamos falar de reprodução (alô igreja&capitalismo), mas me enoja ter que lidar com gente que tem discursos castradores querendo podar a autonomia corporal alheia.
Pra existir precisamos de um corpo e o corpo faz isso: sente desejo entre outras coisas. Expressa tesão, alegria, vontade e raiva, violência. Que isso sim deveria ser a grande questão pra colocarem em pauta ao invés de contabilizar o “pecado” alheio. Mas… O corpo, o desejo e o sexo sempre foram tema de construções midiáticas. Desde pintura na caverna lá atrás, nos livros, nos filmes etc etc E para além de quando tudo isso virou pecado, as coisas foram tomando outro rumo onde quem vive em plenitude com essa parte de si, é visto como monstruoso, nojento, pecador e tantas outras coisas repulsivas imagináveis. Muitas vezes até mostrado assim.
Eu sei que ninguém é obrigado a nada, mas fui coletando umas evidências ao longo da minha vida que toda vez que me deparo… me irrita rs Vamos de disclaimer e superexposição? Bom, minha avó nunca deixava eu ver cenas de sexo na tv quando assistíamos novelas e filmes. Mas eu via softporn na band de madrugada e depois com o acesso a internet, fui me informar. Como toda criança tive a época de me masturbar sem nem fazer ideia do que era sexo ou masturbação ou qualquer coisa do tipo. Era só um esfregar ali que era gostosinho, sei lá porque… que quando fui entender tudo o que era e significava, fez sentido. Tinha quase certeza que seria uma pessoa que gostaria de sexo quando fizesse. Mas não podia falar sobre isso com ninguém, afinal é pecado e coisa de vagabunda.
Crescendo, as amiguinhas da escola todas se interessavam mas guardavam isso a sete chaves (não muito bem). Se alguém soubesse de algo, como por exemplo o que significa um boquete, a fofoca dava um jeito de rolar porque todo mundo queria aprender. Até então eu só aprendia e não fazia nada, por conta da culpa católica e da voz da minha avó dizendo que mulher fácil não arranja ninguém. Basta ser vagabunda para ser odiada e indigna de amor. Então pra não pecar muito, esperei meus 18 anos pra transar. Mas já expressava minha libido e sexualidade de outras formas, só não sabia. E claro, depois que eu experimentei acabei gostando mesmo e abracei esse fato.
Criando consciência política etc ainda me impressiona tanta gente “mente aberta” mas que continua mergulhada na culpa católica quando se fala de sexo (inclusive sem ser católico, ora ora). Cheios de ideias conservadoras e retrógradas. Com um discurso de extremo julgamento e repulsa “velada”. Cada um que escolha a dinâmica que lhe faz bem e viva de acordo com os seus valores, mas tem tanta dicotomia e hipocrisia que eu só consigo pensar “nossa anjo, mas você tá se ouvindo? tá vivendo o que você tá pregando?”.
Toda expectativa social em cima do gênero e do corpo, ainda são reproduzidas em modo automático. As pessoas continuam dando sentido de valor e papéis sociais pelo corpo alheio. A gente que achava que era dono de si, ainda estamos amarrados pela lógica mercadológica da coisa. O corpo precisa ser útil e produtivo, e pra isso a libido precisa ser reprimida, enclausurada, ou vivida em extremo sigilo. Porque quem não o faz… já sabe.
E aí vem a galera criticar o cinema e suas cenas de sexo. Toda arte é criada por gente, trazendo à tona vivências, experiências, sonhos, desejos, repulsas e etc. Como gostam de dizer: a arte imita a vida. E como imitar a vida sem falar de sexo? Para além de dar tesãozinho em quem está assistindo, a sexualidade é uma das nuances que dita muita coisa na vida de uma pessoa. É uma parte de si e de se colocar no mundo, para além de se relacionar. Sexualidade no cinema é importante (se souber ser utilizada) para dar profundidade às personagens que acompanhamos. Para entender nuances. Pra gerar empatia. Ver sexo no cinema nos dá possibilidades. Possibilidades de ver que existem opções para além do heteronormativo. Para além do sexo depois do casamento e reprodução pra gerar filhos trabalhadores que alimentam o sistema. É uma complexidade que muitas vezes é simples, mas precisa estar ali. Imagina se só existisse filme com final feliz e coisa boa, sem nenhuma fodinha. A gente sabe que parece propaganda enganosa igual aqueles panfletos de testemunha de geová.
É muito fácil criticar as obras e clamar por essa censura no cinema do que chegar na cara das pessoas e gritar que elas são depravadas, predadoras sexuais só porque se permitem abraçar um lado obscurecido por valores que nem fazem sentido pra quem o acata porque já existiam antes de nós mesmos.
Mil anos atrás eu queria ser sexóloga, sou fã de educação sexual e informação à todos. Então eu poderia estar aqui falando dos benefícios e caminhos e maneiras de expressar/lidar/viver e conviver com libido, desejos, sexualidade e afins. Mas hoje só tô revoltada e queria muito que as pessoas colocassem a mãozinha na consciência. Por quê diabos vocês tão caindo em papinho conservador nessa altura do campeonato? Pleno 2024? Você que se diz de “esquerda mente aberta”? Tá na hora de rever algumas coisas. E quem sabe viver outras também. Começam tirando cena de sexo no cinema e o próximo passo é o que, todo mundo voltar pro armário e mulher se restringir a ser esposa?
Esse discurso também está na galera que fala que usar vibrador tira a sensibilidade do clitoris. Ou que você acumula energia das pessoas que você transa e precisa fazer limpeza do útero… Enfim são tantos absurdos que aparecem com tantas falas diferentes e problemáticas que de fato na era da fake news, tem que ter muita atenção no que vocês consomem ou acreditam. Mas se faz parte dos seus valores só posso pedir pra deixar de ser fiscal do tesão alheio. E quem quiser ser piranha, seja piranha de boa. Se cuide, não seja uma pessoa escrota.
Vale o lembrete que o corpo é político. Sexo também.
Superstarlet A.D depois do fim do mundo surgiram gangues de beleza onde mulheres procuram refúgio e identificação. Elas se unem pela cor de seus cabelos e vivem em batalhas contra homens das cavernas. Um grupo quer unir todas as facções de todas as cores de cabelo… Tem uma premissa interessante e muitas cenas e falas feministas apesar de muita objetificação também. Mas é divertidinho.
Night of the Insolent Vermin é fofo demais pra ser trash. Um grupo de amigas se reune pra fugir de um tornado cheio de baratas assassinas. Bobinho demais.
Slave Girls from Beyond Infinity apesar das problemáticas é menos pior do que eu imaginava. Uma dupla escapa da morte numa fuga mas sua nave cai num território onde as pessoas parecem bacanas mas adoram um joguinho de caça. Tem um bom roteiro e aos fãs de ficção científica, arminha pewpew lasers e espaço sideral, uma boa pedida até.
Teeth uma garota ativa nas atividades religiosas conhece um cara na igreja e se apaixona. Mas ela começa a descobrir mais sobre si, principalmente que tem a vagina dentada… e coisas acontecem. Caralho, filmaço! Não dava nada mas amei muito. (vem vídeo/texto aí)
Blink Twice mostra duas garçonetes que se infiltram numa festa de gala e depois de muito flerte e diversão, são convidadas pra ilha de um bilionário com uma galera pra descansar. Mas nem tudo é tão legal quanto parece. Ótimo pra falar de abuso de poder e até que ponto mulheres chegam pela aprovação de macho. Uma ótima estreia da Zoe Kravits como diretora apesar do final ser meio nas pressas.
Lendo essa pérola só agora e lembrei que minha primeira terapeuta falava essa fita da troca de energiaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Adorei! <3