O artista brasileiro Randolpho Lamonier, perguntou para centenas de pessoas na praça da Sé qual seria o maior sonho de cada uma delas, se dinheiro não fosse problema. Ele transformou várias das respostas em cartazes, pelúcias entre outros tipos de arte espalhadas pelo local. Dois pontos são sempre comuns nesse tipo de pergunta: o básico e o quanto sonhar é diferente pra cada um.
Botar a galera pra pensar faz parte do meu trabalho e uma das perguntas do meu questionário inicial de terapia é quase parecida: se você ganhasse hoje na loteria, o que faria com o dinheiro? É triste pensar que dinheiro é sim, a solução de uma maioria esmagadora de problemas.
Percebo um ponto que assombra muito nós que não somos herdeiros: o sonho da casa própria. Um canto pra chamar de seu para além de sair do aluguel, é uma segurança de ter pra onde voltar, ter onde “cair morto” se por um acaso tudo (oq é tudo?) der errado. Afinal se não fosse dinheiro, talvez seria difícil acontecer esse “tudo der errado”.
Com dinheiro na conta a gente pensa que pode fazer o que quiser. E por um lado sim, por outro tem tantas outras amarras. Família, conjes, doenças, etc etc. Enfim, mas outra coisa que é legal pensar é sobre como alguns sonhos mudam. Mudam porque a gente muda. Mudam porque as circunstâncias mudam. E principalmente porque a vida é movimento, e nós vamos sim, sempre pensar na próxima coisa realizável, ou de desejo.
O da casa própria sempre esteve em primeiro lugar, mas alguns outros disseram muito sobre a minha versão da época de cada um.
Quando adolescente o sonho da banda punk de mulheres, onde traduzir toda a raiva e revolta em músicas de quatro acordes fez todo o sentido possível, apesar de nunca concretizado. Não precisa de fama mundial nem nada do tipo. Só saber que os nossos compartilham das mesmas revoltadas. Que é um lugar que há muito tempo já deveria estar explodindo de mulheres ocupando.
Já quis viver viajando o mundo, mas aprendi que voltar pra casa é sempre melhor (pra mim). Ainda mais agora que sou mãe de pet e tenho amizades maravilhosas pertinho. Mas adoraria uma viagenzinha de um mês inteiro pro Japão.
Houve tempos em que nada fazia sentido e o sonho era apenas que a dor acabasse. Mas nada que pudesse fazer senão esperar. Sonhar com ter força e poder ser livre enfim. O famoso sonho de liberdade vem diferente pra cada um mas vem né?
Sonhei em ser diretora de cinema, em ver todos os filmes do mundo. Em morar fora, sair daqui. Em ter um amor e depois ter vários, ou que talvez fosse melhor não ter nenhum.
Tem quem diga que sonhar só pode ser sobre coisas inalcançáveis, porque se for realizável não é sonho… é plano. É objetivo. Se for assim, tenho o mesmo sonho coletivo: não precisar trabalhar, não sofrer por conta disso e viver só daquilo que me dá quentinho no coração.
Hoje eu tenho um sonho que é o principal. Ter uma vila de chalés só com as pessoas que eu amo (todas minhas amizades e afetos que ainda estão por vir), cada um morando no seu. Onde vivemos numa comunidade autossustentável (o quanto der) e cada um com sua função pra nossa vila ser gerida na paz e diálogo.
Mas devaneios sonhadores de lado, acho legal escutar sobre os sonhos das pessoas. Mais uma vez, isso diz muito sobre elas. E sobre essas mudanças também. Quantos de nós carregamos os mesmos sonhos de criança? Quantos olhamos pra trás e pensamos “Puts que besteira”? Acho importante manter uma chaminha de sonho vivo na gente.
Importante lembrar que não somos ninguém pra diminuir o sonho do outro. Cada um do seu tamanho. Da sua intensidade. Do seu espaço no mundo. E principalmente do espaço no coração de cada um. Sonhar é sempre válido (mas viver alheio à realidade e deixar isso te adoecer e atrapalhar toda sua vida, é problemático).
Quando vou num show punk por exemplo, sempre olho e penso “puts, queria estar fazendo isso também”. Mas não tenho tempo e dinheiro pra alugar estúdio e fazer nada disso acontecer. Deixa eu cantar meus punk no banho, lavar a alma num show de vez em quando… tá tudo certo.
Outra coisa que adoraria é o combo: ganhar na loteria e abrir minha cafeteria+livraria. Ter uns clubes de leitura nela, fazer uma noite do cinema na semana. E estar 100% do tempo COZY VIBES e bons cheirinhos no ambiente.
Aiai, que gostoso sonhar enquanto tô aqui atropelada por uma garganta trancada que não me deixa respirar nem engolir saliva sem sentir uma dor excruciante e mesmo assim tendo que trabalhar porque não tenho chefe e se eu não pagar a ração dos dog, ninguém vai.
Fiz um cappuccino de pistache, botei uma musiquinha de boa enquanto escrevia isso porque só consigo falar de sonhos acordada mesmo. Quando durmo meu conteúdo onírico é sempre caos, humilhação, sofrimento, violência, rejeição e nada de bom que se tem pra sonhar.
Enfim também vi uma frase “pra onde vão os incômodos que você não devolve” e como já estava escrevendo esse texto pensei: pra onde vão os sonhos que você não realiza? Como você olha pra eles hoje? O quanto isso te influencia pra tomar suas decisões hoje ou até mesmo criar novos sonhos?
Os meus parecem que, igual o exemplo anterior da banda, ficam guardados numa caixinha dentro de mim e só vêm a tona quando algo muito próximo daquilo, chega pra dar um quentinho no meu coração. Acho isso um certo avanço, já que era muito amargurada. Olhar pros sonhos quando coisas boas acontecem, e não apenas mediante frustrações e afins.
E bonito demais falar disso tudo, mas o que mais dói é que… dinheiro é sempre um problema. E imagino que continuará sendo, pelo menos até o fim da minha geração e a próxima. Tanto potencial, tantas coisas, tantas vivências…
Quem você seria se não tivesse que vender a sua vida pra assegurar o seu direito de existir? Qual seria o seu sonho?
Didi acompanha um adolescente nos anos 2000 que quer aprender a se enturmar, beijar na boca e lidar com as mudanças sociais. Ao mesmo tempo que tem vergonha de sua família e sua mãe. Um filme fofo demais e cheio de “quem nunca né”. Não tem o Renato Aragão no elenco.
Werewolf Bitches from Outer Space três mulheres saem de seu país Uranus, pra ajudar combater injustiças na Terra. Dei gostosas risadas mas puta filme viajado do caralho. Uma podreira meio quentinho no coração.
Napoleon é um filme chato sobre um homem chato e patético e quanto ele era um marido escroto. Nenhuma novidade por aqui e definitivamente não vale três horas de chatisse.
Greedy People acompanha dois policiais em uma ilha pequena que acabam se metendo num acidente com muito dinheiro envolvido mas que leva a um monte de outras coisas que fogem do controle. Uma grata surpresa, aos fãs de Fargo e afins, um prato cheio. Joseph falando mandarim estará perpetuamente em meus sonhos molhados. Bom roteiro, boas atuações e bom plot! Adorei.
Filth McNasty duas mulheres “nerds” têm o sonho de serem gostosas desejadas por todos e fazem um menage com um demônio para conseguir tal feitio. (elas viram gostosas parando de usar óculos e soltando o cabelo). É um filme tão ruim que minha alma morreu um pouquinho.
Starve Acre acompanha um casal que tem um filho que começa agir estranho mas aí outras coisas estranhas acontecem. É uma misturebe de coisas meio folk horror, com pet semetary com sei lá o que mas no fim meio chatinho e dá sono. Porém Matt Smith está saborosíssimo.
Thelma mostra uma senhorinha que após cair no golpe de ligação (tão conhecido por nós) decide tomar as rédeas e ir atrás de ter seu dinheiro de volta. É um filme bem bonitinho mas poderia ter ousado bem mais na satirização de um filme de ação. Porém assistiria mais uns três desse na boa.
Killer Piñata uma piñata possuída está cansada de ver outros de sua espécie serem massacrados por nada e decide se vingar dos humanos. Eu te entendo piñata assassina… eu te entendo. Divertido pero no mucho.
Manos: The Hands of Fate Uma família se perde na estrada e acaba numa casa que tem culto demoníaco. É considerado (não por mim) um dos piores filmes do mundo e eu entendo o porque, mas mesmo assim ouso dizer que já vi muita coisa pior.
The First Omen revi esse que é um dos meus preferidos do ano pra gravar o primeiro episódio de SPOILER VEM AÍ o podcast das minas do boca do inferno, Rainhas do Grito. Então pra saber mais, você vai ter que ouvir quando estiver no ar!
Poultrygeist: Night of the Chicken Dead pegue tudo que há de nojento e errado com o ser humano, e misture com a quebra de todos os direitos humanos que existem. Apesar de ser nojento demais pra mim, entendo porque é um clássico da trasheira.
Only Murders in the Building achei a terceira temporada um pouco mais arrastada e com muita bagunça, mas sempre divertida e gostosinha.