Essa é uma edição reestruturada e atualizada de uma versão antiga desse texto postado quando a news estava hoespedada pelo falecido getrevue.
Eu já fui uma cinéfila pau no cu, confesso. Com essa edição peço aqui perdão a quem teve que me aguentar nessa fase. E venho mostrar como o mundo dá voltas, consegui minha redenção e a vida adulta e o capitalismo matam todos os dias nossos sonhos e hobbies (brincadeira mas não muito).
Quando criança colecionava fitas VHS de todos os desenhos que amava. Minha avó me levava ao cinema pra ver todos os lançamentos da Disney e animações dos anos 90. A primeira obsessão cinematográfica que tive foi com Space Jam. Quando ganhei a fita chegava a assistir sete vezes por dia (seguidas). Meu primeiro filme no cinema “live action” provavelmente foi o primeiro Harry Potter (que hoje graças a maturidade segui em frente e deixei a franquia lá no passado como deve ser), lembro na estreia sentar nas escadas pois o cinema do Bauru Shopping ainda não tinha cadeira marcada. Era um “vocês que lutem”, onde pessoas chegavam horas adiantadas para pegar a fila e conseguir um lugar bom.
O interesse por cinema começou a crescer quando adolescente e aí morou o perigo, afinal eu era uma jovem pouco rebelde (nunca fui muito transgressora na idade que deveria ser) e tinha muito tempo livre. Eu queria saber de tudo. Assistia um filme e automaticamente ia na internet procurar toda a ficha e listar a filmografia inteira dos atores e diretores que eu gostava pra poder ver depois. Tive sim uma vida fora de casa, mas passei meses de férias assistindo cinco filmes por dia porque me achava correndo contra o tempo. TENHO QUE VER TUDO. E depois que descobri as produções fora do mainstream hollywoodiano, comecei a ficar chata.
Ver filme com meus amigos era um inferno, um bando de jovem que não prestava atenção em nada, ficavam conversando ou até então DORMIAM enquanto tentava apresentar obras espetaculares pra eles. Eu reclamava, achava ruim mesmo, real oficial. E criei uma habilidade inútil onde conseguia identificar os atores pela voz, identificar compositor pela trilha sonora e listar pelo menos 3 filmes de cada um que eu visse na tela e me perguntassem. E claro que na minha cabecinha, esse poço de conhecimento inútil era tudo o que eu tinha de interessante a oferecer.
Eu achava que manjava muito e comecei a colecionar dvds, pois o vhs já tinha ido de arrasta pra cima. Gastava todo e qualquer centavo em filmes, pedia de presente de natal e aniversário. E hoje o dvd também está morto e enterrado, e tenho uma coleção de quase 600 filmes parada e pegando poeira lá na casa da minha avó. Coleção que hoje não tenho a mínima vontade de trazer comigo pra SP e preguiça demais de fotografar tudo pra tentar vender na internet. (tenho foto das lombadas que posso mandar aos interessados que quiserem comprar por R$10, me chama que tem de tudo)
Porém além de usar frases do tipo “COMO ASSIM VOCÊ NÃO CONHECE X FILME? UM CLÁSSICO”, e provavelmente ganhar alguns softblocks e ninguém querer conversar comigo sobre, esse vício também me trouxe coisas boas. A primeira delas foi minha melhor amiga Renatinha, nos conhecemos por FOTOLOG pois ambas criamos uma fan page sobre Hugh Jackman. Quando nos visitávamos (ela mora no Rio de Janeiro) passávamos horas assistindo filmes e fuçando em lojas procurando dvds no precinho pra aumentarmos nossa coleção. Hoje dividimos contas de streams e planos de vermos juntas musicais no teatro e quem sabe um dia na tão sonhada Broadway.
Além disso, o cinema acendeu uma vontade em mim de criar. Um dos meus sonhos adolescente era me tornar uma diretora de cinema e contar histórias. Sempre achei que tinha uma voz que deveria ser ouvida de alguma maneira. (apesar de na época só falar bosta) Vivia achando (até hoje) que tinha coisas a compartilhar e quem sabe assim as pessoas não se identificariam e teríamos trocas e relações incríveis. Eu até cheguei a escrever um curta com “puta crítica social foda” disfarçado num apocalipse zumbi (alô Romero) mas ele nunca viu a luz do sol, ou de um papel (só do arquivo do word que eu perdi). E a vida adulta chegou, me atropelou e me deixou largada na sarjeta desiludida com a realidade de pertencer a esse mundo.
Entrando numa faculdade de cinco anos e precisando estagiar junto, meu tempo dedicado a consumir filmes foi diminuindo. O máximo que consegui era frequentar o cinema duas vezes na semana (o ingresso em Bauru custava CINCO REAIS), então não dava mais pra garimpar filme cult norueguês e chorar, aplaudir THIS IS CINEMA e morrer comigo porque ninguém se importava. Outras preocupações surgiram também, eu aprendi a beijar na boca e transar e gastar tempo com isso parecia um pouco mais interessante do que definhar na minha cama assistindo&assistindo&assistindo coisas. Meus hormônios não queriam mais masturbação pra gente que eu não tinha a mínima possibilidade de ver pelada na vida real. Então eu fui viver.
Estudando psicologia ainda consegui fazer uns trabalhos relacionando filmes na faculdade, escrever sobre as duas coisas ao mesmo tempo. Mas isso me mostrou o quanto seria difícil minha realidade se eu tivesse engatado uma outra faculdade em seguida pra seguir esse sonho de anos atrás. Eu precisava ser independente, sair da casa da minha avó e pagar as próprias contas, o cinema não faria isso por mim. Afinal eu sou brasileira e na época bauruense, né? (sei que tem gente que consegue)
A partir daí eu não consegui mais acompanhar. Não consigo mais ver uma lista completa de indicados pro oscar. Não consigo ir ao cinema uma vez por semana (em São Paulo um ingresso chega a QUARENTA E CINCO REAIS). Nem comecei ou conseguiria manter uma coleção de bluray. E o principal: nem xingo mais quem gosta de filmes do Adam Sandler. A opinião ou falta de conhecimento cinematográfico alheia não faz a mínima diferença na minha vida (amém?). Tenho outras prioridades.
Minha relação com o cinema mudou. Hoje assisto coisas pela curiosidade e o bel prazer de só assistir. Escrevo reviews baseado no que acho interessante pro Boca do Inferno porque também descobri minha paixão pelo horror, algo que eu fugia muito na minha era “wanna be blasé” e hoje é um gênero com infinitas possibilidades que acho incrível. Faço o espresso da semana aqui e no instagram porque gosto de compartilhar o que vi. Hoje é tudo mais leve, sem tom de superioridade, sem obsessão, sem brigas e sem a ilusão de que vou conseguir consumir tudo antes de morrer.
Também a minha vontade de criar se voltou pra escrita e não mais pro audiovisual. Prezo pelo conforto, só vou no cinema pra ver alguns filmes selecionados que parecem valer a pena. Ainda gosto de sentar pra trocar indicações e conversar sobre isso. Fazer listas de preferidos do ano e coisas assim, graças a meus amigos incríveis que tornaram isso um rito de passagem de ano.
Deixei de ser a cinéfila pau no cu e me tornei a adulta que precisa de um filminho pra desligar a chavinha da obrigação. Pra descansar, rir, chorar e deixar o cérebro lisinho. Amadurecemos nossa dinâmica. Hoje, é a paz de um amor tranquilo.
Le Règne Animal é uma distopia onde humanos começam sofrer mutações de transformando em animais. Um pai não consegue salvar a esposa mas vai fazer de tudo pelo filho, que já começou a mudar… Muito bom, recheado de críticas sociais, bons efeitos e atuações.
Wonka não me pegou porque obviamente não sou o público alvo. Bem bonito visualmente mas Chalamet não me convenceu rs Coloca pras crianças que elas vão gostar.
Geostorm tem um elenco muito bom mas um roteiro tão ruim que misericórdia kkk Desastres naturais começam acontecer no mundo inteiro devido problemas em satélites e claro que um homem branco bem determinado é capaz de salvar tudo! kkkk
The Invisible Man é o pesadelo de qualquer mulher. Depois de fugir de um ex abusivo, nossa protagonista se vê perseguida por ele numa versão invisível e ninguém acredita até ela conseguir provar que não tá louca. Puxado de assistir, muitos gatilhos pra quem já sofreu perseguição e violência. Mas um bom filme com bom roteiro e atuações. As montagens de cena são ótimas pra atmosfera que cria.
Smoke Sauna Sisterhood é um documentário sobre sororidade. Na Estônia uma comunidade de mulheres se reunem em uma sauna e trocam vivências, suporte e tudo o mais. Belíssimo. Meu sonho montar uma comunidade assim, pena que sou pobre rs
Duna part 2 bonito como só Villeneuve sabe fazer. Melhor que o primeiro mas nada muito UAU. Porém acho incrível que uma obra de scifi conseguiu esse sucesso e visibilidade no cinema. Preciso ler, mas preguiça por enquanto rs
Miller’s Girl é um desserviço. Uma adolescente na vibe “pick me girl” seduz seu professor de literatura e é como se tudo fosse uma fanfic de mal gosto escrito por uma jovem de 15 anos. Tudo forçado, jogado, ruim. Ninguém e nem nada salvou.
Rossz Versek tem um trintão após levar um pé na bunda vira o rei da coitadolândia e começa a refletir sobre os afetos da sua vida. Tem muito sobre a sociedade e cultura da Hungária, o que obviamente me deixou meio perdida. Mas é bom, apesar de que homens héteros brancos coitados me dão um pouco de ranço.
A Faithful Man acompanha um cara que é traído pela namorada com seu melhor amigo. Anos depois o amigo morre e ela volta pra vida dele com um filho. O Louis Garrel é um gostoso mas o filme me deu um pouco de preguiça pela vibe “competição feminina pra ver quem no final vai ganhar o macho”. A autoestima e fantasia masculina é clichê demais.
The Wicker man um policial vai para uma ilha investigar o desaparecimento de uma criança e acaba descobrindo outras coisas… Muito bom. No começo assustei com a quantidade de música cantada mas depois fui entrando no clima. Christopher Lee sempre foi gigante né?
Dark Harvest a população de uma cidade só tem a oportunidade de sair após matar uma criatura assombrosa uma vez por ano no halloween, mas nem tudo é o que parece. Para a proposta é até um filme legal mas não dá pra esperar muito rs. Senti uma vibe meio Stephen King. Dá pra passar o tempo.
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