Quebrei mais uma promessa e fui em dois dias de shows, como comentado na edição anterior. O festival e o show solo foram praticamente uma maneira de honrar a Moxxay adolescente que vos fala. Inclusive, um ano atrás eu fiz uma edição sobre os caras do rock (que pode ser lida se você assinar a versão paga dessa news e ter acesso ao arquivo todinho).
Comecei a escutar a grande maioria de bandas que eu gosto de maneira aleatória em programas e sites de baixar música. As páginas do myspace mostravam sons relacionados e eu ia explorando e dando play um milhão de vezes nas mesmas faixas pelo Winamp.
Depois de System of a Down, minha banda favorita foi My Chemical Romance. Eu ouvia muita coisa desse tipo mas jamais ousaria me chamar de emo. Até porque o emocore raiz não me apetecia. Tinha vergonha que algumas das músicas que eu gostava eram associadas ao gênero, que na minha cabeça não tinha sentido algum. Mas não vou entrar em detalhes técnicos porque não manjo e não me interessa manjar. (só o docinho)
Concomitantemente eu descobri o punk rock, que segue sendo meu gênero favorito até hoje. No início dos anos 2000 passei a frequentar shows em Bauru. Meu primeiro show na vida foi do Dead Fish e o segundo foi do Garotos Podres, e eu saí do sesc de alma lavada. Aquilo virou uma chave em mim, que ainda não acabou de girar, mas explico mais pra frente.
Nesse sábado passado tive o privilégio de ir no I Wanna Be Tour, com amigos de outra cidade que nos reuníamos trimestralmente para ouvir as músicas da nossa geração em rolês com Pump it Up e refrigerante. Foram vinte anos de diferença até poder ouvir essas músicas ao vivo. E eu chorei muito. É engraçado como existem rituais e comportamentos que são específicos de momentos sócio-culturais de cada geração.
Eu era uma jovenzinha de internet discada, com muito vírus no pc e muito repeat nas mesmas músicas. Fazia download dos clipes, tinha os posters colados até o teto. Abria a letra no vagalume ou em algum site aleatório pra aprender a cantar. Morando no interior eu nunca teria a oportunidade de ver tudo o que eu gostava. Vir pra SP era caro, eu era menor de idade e não tinha lá muita companhia que topasse essas aventuras. Os showzinhos nas pequenas casas de show da cidade eram minha alegria, mas já me rolava um impasse que era: eu me sentia uma fraude por não me encaixar estéticamente com o resto do público. Eu até usava camiseta de banda (minha primeira foi do Weezer, que eu adulta também conseguir ver ao vivo), cinto de rebite e all star mas… com meu cabelo cacheado eu vivia sempre de trança ou com ele preso. Não usava maquiagem, nem meia arrastão, nem franja e nem mechas coloridas no cabelo. E no show de terça eu vi que talvez as coisas não tenham mudado tanto assim.
É constante as crises e questionamentos relacionados a autoimagem. Apesar do show da Bikini Kill ser um espaço predominantemente (raríssimo) feminino, me deixou ainda, quinze anos depois, com uma pulga atrás da orelha. Muitas mulheres brancas, alternativas e franjudinhas, tatuadas e muito magras. Foi mais um cenário onde me senti fora da casinha. Não sou magra o suficiente, nem alternativa o suficiente, nem feminina/masculinizada suficiente, nem tatuada o suficiente e nem jovem o suficiente. Eu sei, racionalmente falando que não preciso ser nada dessas coisas pra pertencer ou frequentar lugar nenhum. Sei que nossas escolhas de roupas, aparência etc são uma forma de expressão e uma extensão de nossa personalidade. Mas algumas coisas enraizadas ainda deixam vestígios em nós, mesmo anos depois.
Eu vivo nessa dualidade de autoimagem e autoestima. Passei a adolescência toda me achando um lixo, feia, sem estilo, não desejada e implicava com detalhes do meu corpo que nunca fizeram a mínima diferença na prática. Também foram anos de bullying na escola e fora dela, também era esnobada pelas alterninhas onde eu tinha que provar que era fã pra ter alguma coisa em mim que me desse a passabilidade de pertencer ali. Claro que todos esses contextos acabaram. Hoje eu gosto de quem eu sou, melhorei muito em lidar comigo mesma e quando olho no espelho (na maioria das vezes) penso que “isso é tudo que eu tenho e é com esse corpo e aparência mesmo que vou ter que fazer o melhor possível pra mim”. Uma corda bamba em que eu caio, levanto e subo de novo. Com mais frequência do que gostaria.
Mas o ponto principal é como nossa memória afetiva, através de gatilhos específicos, nos evoca essa avalanche de sentimentos mistos. As bandas que vi me lembraram de uma época em que me divertia muito, cantava em plenos pulmões e performava no meu quartinho minúsculo. Reunia com os amigos e ficávamos repetindo “nossa meu sonho ver essa banda ao vivo”. O quanto eu era inocente e o tanto de reviravoltas que eu sofri de lá pra cá. E ao mesmo tempo o quanto mesmo eu sendo cada dia mais dona de mim, eu ainda sou vulnerável. Ainda vou me sentir pequena e sozinha em algumas situações. E principalmente o quanto ainda preciso ficar me lembrando de não me comparar com essas pessoas que só “parecem” pertencer mais fácil do que eu. E que sou sim, suficiente.
Eu nunca vou ser ninguém além de mim, e isso é ótimo.
A Naty adolescente era bem machista antes de ter consciência de classe e conhecer o movimento feminista. Talvez por uma época eu até sentisse medo de me tornar o que sou hoje. Mas a ficha caiu quando deu pra cair. Por isso acho mais realista que a Naty de hoje é quem honra aquela adolescente. Eu não sabia de nada da vida mas agora eu tenho a oportunidade de olhar pra trás com mais carinho em relação a pessoa que eu fui. No fundo ainda sou eu, realizando meus próprios sonhos. Não importa de qual versão que seja. E esse é um dos maiores atos de pertencimento que eu posso fazer por mim.
Vicious Fun é um slasher que não se leva a sério. Um jovem que escreve críticas de filmes de terror pra uma revista, acaba se enfiando num grupo de ajuda para serial killers. Uma podreira divertida e cérebro lisinho. Bão!
Memory acabou comigo rs Uma assistente social reencontra um homem na reunião de ex-alunos de sua escola e ele não é quem ela imaginava. Eles se envolvem mas ele tem demência e caralho que filme triste. Bom.
Anyone But You tem o casal mais padrão de hollywood que se apaixona por uma noite mas dá ruim e se reencontram anos depois tendo que fingir ser um casal pra reconquistar seus respectivos ex. Muita autoestima e pouca noção de gente achando que o casamento dos outros tem que ser sobre eles rs. Bem mamãozinho com açúcar, do jeito que o povo gosta e do jeito que me entristece (risos)
The Iron Claw é só o começo pra um dia chegar o Oscar do Zac Efron. Baseado em fatos reais de uma família de lutadores e as tragédias que foram acontecendo devido o pai machista e opressor, macho alfa da alcatéia. O filme ainda deixou de lado outros fatos pesados mas vale ver.
Monolith acompanha uma jornalista que tem um podcast de coisas sobrenaturais e descobre coisas relacionadas a um “tijolo alienígena” kkkk Bem minimalista mas chato pra caralho
Rustin apesar de contar uma história importante, não entendi o que tá fazendo nos indicados do Oscar. Um elenco maravilhoso mas um filme fraco demais. Sobre um ativista que enfrenta o fascismo e a homofobia pela luta dos direitos civis organizando a marcha de 63.
Out of Darkness volta pra 45mil anos atrás nos primeiros povos da idade da pedra que vão vagando por uma nova terra e começam a ser caçados por algo meio mal e meio místico e perigoso. Legal, mas nada memorável.
All Fun and Games tem o famoso tropo do jovem burro que vai mexer onde não é chamado. Um grupo de jovens em Salem descobrem uma faca amaldiçoada e aí a matança começa. Que filme horrível de ruim misericórdia, me deu vergonha alheia.
The Night Of é uma minissérie maravilhosa. Um jovem pega o taxi do pai escondido pra ir numa festa. Encontra uma jvoem no meio do caminho e depois de transar, quando acorda com ela morta do seu lado. Muito bem construída e o desenvolvimento dos personagens dá uma aula de roteiro. Plus tem meu marido (ele não sabe que é) Riz Ahmed, que merece o mundo.
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