É claro que a psicóloga, feminista, gayzista em mim amou Poor Things e sentiu o impacto positivo de uma obra de arte dessa. Yorgos é um diretor que no meu coração, nunca errou em seus filmes, e não seria diferente nesse. Quero ver de novo e de novo e de novo.
Gosto de filmes que deixam aquela sensação de que não é preciso muito pra aproveitar a vida e ser feliz (críticas ao capitalismo a parte), como o também recém assistido por mim e que amei “Perfect Days”. E claro, pela lente da romantização parece uma coisa tão fácil. Tão simples. Parece.
Até porque num geral as pessoas que têm esse super poder são julgadas de outra forma. Dizem que são inocentes demais. Fora da realidade. Criadas numa bolha. Imaturas. Sem malícia. Ou algum diagnóstico x ou y que nada tem a ver uma coisa com a outra. Um mundo amargo que deseja que todos os outros estejam azedados juntos.
Não sou nenhum alecrim dourado e confesso que é muito difícil pra mim, o deleite na simplicidade. Algumas coisas eu aprendi a identificar com o tempo: pão quentinho com café, cochilo abraçada com os cachorros no sofá, performar uma boa música no banho quente (temperatura colo do capeta), enfim. Mas num geral é difícil encontrar sorriso fácil em todos os detalhes.
Como é dito no filme: é preciso experienciar a vida por completo com seus deleites e seus horrores, sendo isso que nos faz seres completos e nos permitindo ter mais controle sobre nossa existência. Lá, Bella pode experimentar, descobrir e viver sem limites e conceitos impostos socialmente desde o nascer. Não que limites não precisam existir, mas são todas essas trocentas imposições que nos impede de viver plenamente. Aproveitar. Encontrar doçura até no que é simples. O amargo primeiro vem de fora de nós.
Os anos de terapia obviamente me ajudam, mas ultimamente me rodear de pessoas incríveis é o que tem diluído um pouco do meu azedume. Tenho ranço extremo de positividade tóxica e otimismo desenfreado. Mas também é inviável ser aquela do “bom dia pra quem” que explode lâmpada quando entra num cômodo, tamanha energia negativa. Sei que um meio-termo é um caminho longo pra ser encontrado, mas um passo de cada vez.
Se libertar das imposições e desse chorume alheio é muito difícil. Às vezes acho que cheguei lá, mas me aparecem pensamentos ridículos que provam que as coisas estão mais enraizadas do que imagino. Por exemplo: é a primeira vez que estou solteira de cabelo raspado, que eu acho que tem tudo a ver com a minha personalidade. Eu nem quero arrumar sarna pra me coçar mas teve um dia que me questionei “será que agora que sou careca e não magra, alguém ainda vai se interessar por mim? será que devo deixar meu cabelo crescer porque fico menos feminina assim?”. O absurdo dos absurdos.
É muito difícil se blindar e se fortalecer com rapidez. Claro que por viés de narrativa, no filme vemos essas percepções em Bella se desenvolverem “rápido”. Existem muitos estudos dentro da psicologia e da neurociência que falam exatamente sobre pessoas que passam por tragédias, horrores e coisas irremediavelmente negativas mas que continuam vivendo a vida de uma forma positiva. Não é sobre não sofrer, mas sim sobre o continuar apesar de tudo. E venho pensando muito sobre continuar, diminuindo aos poucos o peso da bagagem.
Venho acreditado de fato que o “poder” de continuar faça as coisas mais leves. É passar pelo problema A: sofrer, lutar, chorar, reclamar, resolver (ou não), respirar e seguir para o problema B. Não espero uma vida só de sorriso no rosto e deleite, mas cair no clichezão mesmo de que nada é eterno. De que é possível viver mudanças, coisas pessoas contextos diferentes. Que tem problema que dói muito mas tem outros que doem menos. Tá tudo bem chorar hoje, mas às vezes dá pra sorrir até mais tarde no mesmo dia. Que a vida é uma mistureba mesmo. Nada é tão limitante há um fator sequer. O azedo de fora não é o que define tudo.
E acho que o mundinho colorido em amarelo e azul de Bella Baxter é, pelo menos em partes, um pouco sobre isso. Mesmo passando pelo horror é possível se descobrir. Experimentar coisas novas. Se transformar em versões melhoradas de nós mesmos enquanto seguimos o baile entre o amargo e o doce. Que nem sempre os detalhes se destacam e nos puxam para a admiração, mas que é possível aprender. Ser menos quando for preciso e ser mais se a necessidade do momento pedir.
Saí do cinema com a sensação daquela esperança meio boba. De que dá pra se empoderar, fazer escolhas certeiras, tomar as próprias rédeas e olhar com mais carinho pra própria jornada. Que eu e você possamos seguir. E seguir mais leve, dentro do possível.
Poor Things traz de volta a vida por um experimento uma mulher que se aventura em descobrir a vida por conta própria. Simplificando o quanto é maravilhoso e uma versão atualizada de Frankstein. Um milagre um filme dirigido por um homem conseguir ter cenas de sexo sem objetificar corpos femininos.
13 Exorcismos mostra uma jovem possuída depois de sair escondida com os amigos. Como sempre: todo filme de exorcismo é sobre a repressão sexual. Sem susto, sem horror, fraquinho demais.
Self Reliance mostra um homem que recebe uma proposta de um reality show da deepweb em permanecer vivo por trinta dias e ganhar um puta dinheiro, mas ele não pode ficar sozinho em momento algum. Divertidinho até mas nada demais também.
V/H/S 85 até agora o mais fraco da franquia pra mim. Histórias curtas na pegada meio snuff com gore e ambientação nos anos 80. Mesmo sendo fraco é o tipo de filme de almoço que eu amo colocar quando quero passar o tempo e não usar meus neurônios.
American Fiction acompanha um escritor que se revolta com o impacto de obras vazias e só de zueira escreve um livro ruim sob um pseudônimo e faz sucesso. Um elenco maravilhoso, uma história e crítica que funcionam muito bem como sátira.
There’s Something in the Barn é a thrasheira que eu queria mas que foi chata demais pra mim. Americanos se mudam pra Noruega e são assombrados por duendes… Claro que é ruim proposital mas nossa, fraquinho que dói. Porém adoraria constituir família com o Martin Starr (eu, ele e meus dois cachorros)
Cat Person foi o melhor da semana pra mim. Acompanhamos uma estudante se interessar por um cara mais velho e como a relação entre mandar mensagens e sair num date ao vivo pode ser completamente frustrante. É totalmente cringe, desconfortável e vergonha alheia, mas com propósito. Gostei muito.
Hermana Muerte mostra uma freira que vai dar aula em um convento mas começa a ser atormentada por visões. Era pra ser terror mas se tornou um thriller investigativo sobrenatural. Muito bacana, Paco Plaza arrasa.
Praia do Futuro queria ter gostado mas pqp que filme chato rs Um homem tenta salvar um cara de um afogamento e não consegue, mas se apaixona pelo amigo do falecido. Ele decide deixar a vida no Brasil pra trás e recomeçar na Alemanha. Serve pra ver o Wagner Moura pelado ou te dar sono.
Little Monsters um músico trouxão acompanha seu sobrinho num passeio pra tentar conquistar a professora do jardim de infância e de repente zumbis invadem tudo. Fofo, divertido e a Lupita é simplesmente perfeita. Uma ótima comédia e ótimo para os fãs de taylor swift.
Benedetta em um convento acompanhamos uma mulher com visões e poderes religiosos que acaba se envolvendo com outra moça e o impacto que causam na comunidade. Que hino. Vitória para os LGBT’s trambiqueiros! Plus: dildo com ponta de santa pra ser cheio de blasfêmia. Maravilhoso. 10/10
Mr & Mrs Smith é daquelas onde um casal em tela tem uma química que funciona tanto que dava até pra acreditar que era uma relação de verdade. Ótima primeira temporada, aguardo a próxima. (também me casaria com donald glover)
Loki teve um final maravilhoso. Essa segunda temporada teve muitos haters mas achei uma obra de extrema qualidade se fizermos um comparativo com o que a marvel tem entregado kkkk Vou sentir saudades. Tom Hiddleston entre em minha casa e coma etc etc
Percy Jackson and the Olympians eu não sou o público alvo mas muito fofinho. Nem consigo proferir uma crítica kkkk Melhor do que se espera, mas também não espere muito pois é infanto-juvenil.
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A versão de Hermana muerte no aranhaverso se chama Hermana Web???