Quando eu morava no interior frequentava o cinema toda semana. A entrada inteira custava dez reais e era um lazer acessível. A cinéfila chata que habitava em mim reclamava das opções escassas e dubladas, mas aproveitava como podia. Hoje eu vou ao cinema uma vez a cada dois ou três meses, escolhendo filmes que parecem uma oportunidade que não posso deixar passar. De resto, o stremio come solto.
Quando eu morava no interior ia para os mesmos lugares sempre. Toda quarta tinha show gratuito no Sesc e depois calçada do bar da Rosa ou Nego Véio. Encontrava as mesmas pessoas. Cumprimentava quem apetecia, fazia a cega pra quem eu queria fugir e não conseguia. Pedia a mesma água e ouvia o mesmo “nossa mas você vem em bar e não bebe”. Hoje às quartas-feiras eu trabalho até às 22h e às 23h já estou dormindo.
Quando eu morava no interior não conseguia ir pra lugar nenhum se não tivesse carro. O transporte público sem muitos pontos estratégicos. Não existia uber. Pra um lugar a 10min de carro se tornava mais de uma hora pegando às vezes mais de um ônibus. Quando mudei pra São Paulo vim com carro. Usei ele pra trabalhar de uber e complementar a renda. Roubaram meu rádio na frente do bar que fui assistir os episódios finais de Game of Thrones. Depois aprendi a andar de trólebus, busão e metrô e não vi mais sentido algum em ter mais um gasto e riscos tendo carro. Hoje ando pra cima e pra baixo a pé. Aqui tenho acesso a tudo perto. Dependendo claro que uso o uber. Mas não ter carro de uma maneira ou outra me trouxe mais qualidade de vida e saúde. Claro, porque eu moro numa cidade o transporte público funciona bem e é acessível pra tudo quanto é canto. Só demora mínimo 40 minutos pra chegar em qualquer lugar da cidade (de carro também) rs
Quando morava no interior sabia exatamente quem eu iria encontrar e onde. Era difícil fugir dos desafetos ou não encontrar aquele ex embuste de repente no único lugar que tinha algo pra fazer. Via os anos passando e as pessoas continuando as mesmas. As pessoas paradas no tempo tornavam a cidade a mesma coisa sempre. Eu sou um ser de mudança e movimento e isso me causava uma angústia que ainda me atrapalho em explicar sobre. Se eu continuasse lá me dava a impressão de que eu também estagnaria. E num antro de conservadores, ignorantes e preconceituosos, era difícil ver uma saída. Muita gente chegou, ficou e foi embora. E trombar sempre quem já foi embora ou que você quer esquecer que existiu, também foi difícil. São pouquíssimos os continuam comigo ainda. Bauru se tornou uma cidade de fantasmas pra mim. É um cemitério que enterro constantemente partes do meu passado.
Quando eu morava no interior, sozinha pela primeira vez, paga 500 reais de aluguel. O apê tinha um tamanho considerável. Gostava muito do lugar e das memórias que criei lá. Só não gostava de ganhar seis reais por atendimento e treze por aula. Minha independência financeira parecia impossível.
Quando eu morava no interior quase não tinha conta pra pagar, mas o teto que dividia com a minha família era pago com a saúde mental.
Quando eu morava no interior eu poderia ter as mesmas coisas sempre. Poucos privilégios que acabaria pagando com a própria vida. Era um preço que me custava muito pra não pode ser quem sou.
Em épocas de desespero financeiro às vezes cogito voltar pra lá ou pra alguma outra cidade tão pequena tanto para poder economizar. Às vezes eu esqueço que não estou mais disposta a economizar ou negociar minha paz, liberdade e coisas que me nutrem a alma. São Paulo tem inúmeros defeitos e coisas ruins, mas é aqui que me dá tudo o que o interior não conseguiu. É aqui que eu realmente me sinto viva e mesmo entre trancos e barrancos, hoje é muito melhor viver do que existir. O interior é um cemitério constante em que sigo enterrando meu passado.
Living é um daqueles filmes quentinhos no coração sobre “melhor tarde do que mais tarde”. Um veterano funcionário público descobre uma doença terminal e decide viver um pouco no tempo que resta. Bill Nighy sempre on point na atuação.
Matriarch acompanha uma mulher que sobrevive uma overdose e volta pra casa da mãe, que não envelheceu nada e coisas começam acontecer. Filme ruim que só, atuações de centavos. Boa atmosfera, péssima execução.
The Assistant acompanha um dia de trabalho de uma assistente que trabalha pra um ricaço. Mostra trabalho abusivo, acúmulo de função e todos os problemas que o capitalismo e chefes ruins podem trazer.
Swamp Thing finalmente fez a vez comigo, demorei mas que obra! Um cientista descobre que criou uma nova espécie que combina animal com planta para sobrevivência e acaba virando sua própria cobaia. Entre outras coisas rs Classicão do Wes Craven, que todo mundo devia assistir uma vez na vida.
Acabei a minissérie The Crowded Room e impressionada que Tom Holland é um bom ator rs Um jovem comete um crime e é preso, mas uma psicóloga se junta na investigação pra mostrar que talvez não seja tudo tão simples assim. O ritmo é lento, mas depois da revelação do plot melhora.
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