Uma versão desse texto foi postada nos primórdios dessa newsletter no falecido getrevue. Resolvi ressuscitar e editar.
A infância foi um período que eu realmente não posso reclamar. Não posso reclamar na visão da natyzinha, porque na minha versão adulta quando olho pra trás vejo que tinha sim, vários motivos para reclamar.
Natyzinha foi uma criança equilibrada nos extremos. Solitária por ser filha única que mergulhava nas brincadeiras e sua imaginação. Sem família grande ou cheia de primos e outras crianças para se divertir nos feriados familiares. Ao mesmo tempo que tinha facilidade de fazer amizades e o que mais gostava na vida era estar com as amiguinhas de escola.
Criada pela avó como um bibelô, uma boneca. Vovó é quem escolhia suas roupas, arrumava seu cabelo, a montava inteira para estar tudo perfeito e combinando e assim poder passar uma boa impressão para os outros. Tudo era rosa, o tempo todo. Como um disfarce pro cinza, o verde mofo e todas as outras cores que mostravam o podre do mundo. Que aparecia aqui e ali, passando despercebido pelo olhar da avó.
A criação resultou em vários comportamentos esperados na infância, mas que trariam problemas na vida adulta. Natyzinha era calada, super educada, tímida. Havia decorado todas as frases prontas para ser sempre agradável e solícita. “Natália sempre foi uma criança boazinha, nunca me deu trabalho. Não sei o que aconteceu depois que cresceu, não criei pra ser assim.” Era cuidadosa com as coisas, não pode emprestar porque ninguém tem tanto cuidado fora de casa. Ao mesmo tempo que ouvia que tudo que tocava quebrava ou virava merda, o que era confuso pra saber o que de fato a definia. Vovó fazia o almoço de nuggets ou um bife (só) porque afinal, deixa a menina, se ela não quer outra coisa não pode forçar.
Amava ir pra escola e estudar, brincar e ler os livrinhos da biblioteca. Era o lugar preferido mas também não livre de extremos. Foi o primeiro contato de Natyzinha com a crueldade fora de casa. Os colegas davam risada dos seus dentinhos separados, era a Mônica da turma (exceto que não batia em ninguém como retaliação). Depois era gorda demais. Peluda demais. Não tinha mãe e pai nas apresentações da escola. Na quinta série ganhou medalha de bronze de mais feia da sala, num sistema justo de votação. Ao mesmo tempo que ganhou ouro na categoria de mais legal.
Natália de hoje não tem amigos de infância, principalmente de escola. Assim como outras amizades, foram se encerrando com os ciclos naturais da vida e permaneceram guardadas no passado. Relações que não perduraram, mas foram boas enquanto duraram. Assim como outras coisas da infância. A boa relação familiar, o afeto, a sensação de segurança e poder contar com alguém.
Mas Natyzinha buscava (e encontrava) um bom refúgio na solitude. Adora brincar com miniaturas e montar cidades com brinquedinhos do Kinder Ovo. Recriava histórias nível novela mexicana com suas barbies bissexuais e poliamoristas. Jogava com os dois controles no seu supernintendo, caçava pokémon no quintal, fingia ser uma garota mágica com o cabo da vassoura capturando cartas invisíveis. Natyzinha foi feliz na sua inocência e ausência de boletos para pagar.
Apesar de muitos apesares, eu gosto da vida adulta. Do hoje. Eu olho pra trás mas sem nostalgia. Não sinto falta daquelas pessoas. Não sinto falta da escola. Eu prefiro olhar e entender. Entender o que Natyzinha passou e viveu, e principalmente aquilo que ela não entendia e não sabia nomear (muito menos digerir, analisar, lidar e superar). A Natália de hoje gosta de ter a maturidade e das mudanças da vida. Gosto de liberdade, saúde mental (mesmo que às vezes aos frangalhos kkk) e principalmente de mudar. Viver o que cada fase tem a oferecer. Uma das coisas que perdurou foi o bom humor e a solitude bem aproveitada.
Mesmo com uma infância beirando o padrão, foi a experiência de ser Natyzinha que fez com que, na adolescência, eu tomasse a decisão de não maternidade como uma verdade absoluta pro resto da minha vida. Eu sei que seria uma ótima mãe e faria tudo diferente, mas eu não quero. Natyzinha não veio ao mundo planejada. A progenitora faz questão de falar que se pudesse escolher, nunca teria sido mãe. (and it shows kkkk) Fico por vezes pensando nas realidades paralelas. Como eu seria hoje se tivesse sido criada pela minha mãe. Ou pelo meu pai. Ou pelos meus avós paternos que brigaram na justiça para ter minha guarda. Mas agora não adianta. Natyzinha sofreu as consequências de coisas não trabalhadas de adultos ao seu redor. Se brigas que não eram suas. De conceitos do que importava pra ela mas não pros seus cuidadores. Esse falso acolhimento até a página dois deixou marcas que são difíceis de apagar. Mas talvez a gente fale sobre isso outro dia.
Na oportunidade de o que eu diria pra Natyzinha seria: sua letra vai ser sempre feia, desencana de fazer caligrafia. Aproveita seu avô, ele vai morrer cedo e não é o seu inimigo dentro de casa (talvez ele seria seu único amigo ali dentro, mas você nunca vai saber). Não precisa tirar 10 em tudo, tá tudo bem ser uma inteligente medíocre e não saber de tudo. Você não é feia, você é CRIANÇA. Pede um nintendo64 de presente, você vai passar vontade. Tá tudo bem não gostar de certas pessoas da família, você vai entender o motivo mais tarde. Confia no teu “pé atrás”. Dê voz às suas vontades. Coma mais barras de chocolate nesquik porque vai sair de linha e no futuro vai ter só importada e custar 18 reais a barra.
Becky acompanha uma adolescente birrenta num final de semana com seu pai e a nova esposa. Nisso um grupo de naz* sequestram todo mundo e coisas acontecem. É legal, tem um gorezinho na medida certa mas nada muito nossa inovador além do Kevin James fazendo papel de homem macho malvadão.
Resolvi enfrentar o medo de infância e me jogar em Child’s Play. Divertidíssimo ver um boneco horrível com a alma de um serial killer botando o terror. Adorei.
Robert Rodriguez me fez dar gostosas risadas com The Faculty que é o puro suco dos anos 90/2000. Os professores de uma escola são possuídos por alienígenas e coisas acontecem. Também super divertido para os fãs de slashers.
Lake Mungo tem essa proposta falso documentário com found footage e não funcionou muito pra mim. Uma adolescente morre afogada num lago e a família começa a ouvir e ver coisas na casa. Só que tudo meio pombo e sem emoção.
Já Trick’r Treat traz quatro histórias interligadas numa noite de halloween e aqui sim a sincronia rola bem legal. Os arcos são diferentes um dos outros e simples que cumprem o que prometem. Poderia ter mais tripas. Dispenso a cena de nudez.
Empolguei e vi Child’s Play 2 e nesse a cara do Chucky tá ainda mais medonha. Achei o próprio “sequência pra ganhar dinheiro sem muito propósito na história”. Mas diverte mesmo assim.
Demorei mas finalmente encarei Freaky e me diverti muito também. Um punhal místico faz com que uma adolescente troque de corpo com um serial killer. O papel mais engraçado do Vince Vaughn até então.
O hypado Totally Killer faz jus. Um serial killer retorna 30 anos depois de suas primeiras vítimas e uma adolescente viaja no tempo para impedí-lo do massacre que inclui sua mãe. Gostosinho pra passar o tempo.
11h Hour Cleaning é podre mas do jeito que eu não gosto. Um grupo de limpeza de cenas de crime se deparam em uma murder house presos por um demônio nórdico. É ruim demais. A história. As atuações. Tudo.
Pra ir de clássico engatei A Nightmare on Elm Street 3: Dream Warriors. Muito melhor que o segundo e não tão bom quanto o primeiro. É muito divertido, o gore no ponto certíssimo pro meu gosto rs e rindo muito da música tema.
Agora o tipo de podreira que eu gosto da semana foi Sharknado 3: Oh Hell No! Ainda com mais e mais exageros. Tubarões no espaço. Um parto dentro de um tubarão descendo do espaço. Os efeitos porcos propositalmente. Que deleite.
A grata surpresa da semana foi com as duas primeiras temporadas de Servant. Querido Syamalan, se um dia de critiquei, não me lembro. Não vou nem falar do que se trata mas se você quer uma série que te deixe curioso no final de cada episódio querendo mais, vai com ela!
Também terminei a primeira tempora de Ahsoka e gostei. Estou um pouco saturada de star wars mesmo amando rs Mas vale ver! Rosario Dawson merece o mundo todinho.
Praquela série de almoço e quentinho no coração, fui de primeira temporada de Harlem. Muito bacana pra quem curte temática de amizades femininas.
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