Uma jovem Natália, em torno de quinze anos atrás, possuía crenças que não mais se fazem presentes. Quando gostava de algo, eu achava que precisava ir ao mais fundo possível na caverna de informações e conhecimento. Não bastava ser a minha banda favorita, precisava pesquisar da vida de todos os membros, toda trajetória, tudo. Mesma coisa com os filmes, artistas e obras que me brilhavam os olhos.
Nas rodas de conversa, se era algum assunto que eu não sabia muita coisa, até tinha a humildade de admitir. “Não conheço, me conta mais! Nunca ouvi falar. Não sei”. Porém no minuto que eu saísse daquele contexto e estivesse de volta ao meu computador com monitor de tubo, eu iria buscar ler e ler e sim, saber. Sim, conheço. Sim, já vi. Afinal, para a jovem Natália, admitir não saber algo era dar atestado de “sim, sou burra”. Feia eu já sabia que eu era, mas ser burra era tirar de mim uma única esperança de ser o mínimo interessante possível pra manter relações. Primeiro eu era legal e engraçada, depois eu quis pagar de inteligente.
Ainda bem que o tempo passa e a gente aprende (falo por mim, por vocês já não prometo nada). Desapeguei desses ideais ilusórios muito mais relacionados à minha baixa autoestima, insegurança e ansiedade. Fiz terapia. E hoje não só me dou ao luxo, como se faz necessário, momentos de alisar meu cérebro.
Alisar o cérebro é sobre a sensação de não usar um neurônio sequer (algo que biologicamente só acontece pós morte). Mas pode ser traduzido em algumas ações. Por exemplo assistir um filme que seja tão simples que não preciso ficar pensando depois que acaba sobre o que ele quis dizer, quais são as entrelinhas, o que significa, etc etc. Talvez tudo o que eu precise no dia é um filme sobre tubarões que chovem do céu através de um tornado. Simples e puro assim, sem mais.
Além de consumir obras que deixam meu cérebro lisinho, também preciso disso sobre coisas que acontecem no mundo. Às vezes a ignorância é sim uma benção. Não estou falando sobre ser alienado e bostejar pela boca sem saber o que está dizendo. Mas sim sobre estar ciente e, se possível na maioria das vezes, guardar a opinião pra mim. Ou dependendo do tópico, escolher não saber.
É claro que nas notícias atuais estou do lado do oprimido e quero que o opressor se foda e perca seu poder. Mas isso não significa que vou me aprofundar em pesquisas e dar um parecer cheio de embasamento e palavras difíceis e provar para o mundo mais uma vez que eu não sou burra. É o mesmo com as coisas que assisto, leio etc. Hoje em dia eu só quero falar se gostei de algo ou não. Sem mais delongas. Mas se eu quiser aprofundar que seja por curiosidade e vontade própria, sem uma necessidade de ser voz ativa na internet ou provar alguma coisa pra alguém.
Eu (e todo mundo) trabalho com visão analítica e resolução de problemas todos os dias. O tempo todo. O que faz com que seja necessário dar um respiro pro meu cérebro. Já comentei por aqui que várias vezes, pessoas próximas me sugerem para criar coisas relacionadas a minha profissão. “Por que você não faz análises psicológicas de personagens ou filmes?” Porque eu não quero ligar o que eu gosto de lazer, com a minha profissão. “Por que você não escreve um livro sobre x tema usando a psicologia?” Porque eu quero que a escrita seja algo que transborde de mim e não mais um trabalho. Eu já fiz 3 TCC’s, eu não quero mais.
Nesse mundinho de alta performance e produtividade, parece que é proibido tirar o que tá dentro da nossa cabeça só porque sim. Se não for uma idéia “útil”, é perda de tempo. Se você não é “relevante” na internet, então porque ter sua persona online ativa nela? Tem que saber tudo. Tem que ser diferentão. Tem que se posicionar sobre assunto sério, fofoca, reality show e seu nicho. Que nicho? Afinal pra falar alguma coisa na internet precisa ter público alvo. E se tá falando, é porque quer ser blogueira… né?
Na real, eu preciso do meu cérebro liso de vez em quando pra sobreviver. Pra dar conta. Não surtar. Respirar. Sentir que a vida não é só obrigação, atrás de obrigação. Que não é preciso provar tudo pra todo mundo, o tempo todo. Tá tudo bem ter um monte de coisa que eu não sei, e na verdade, muitas nem me interessa saber. Impossível saber tudo. E mesmo se existisse essa possibilidade, eu não iria querer.
TOP 5 COISAS QUE DEIXAM MEU CÉREBRO LISINHO
1 - Assistir trasheira - Filmes como sharknado, rubber o pneu assassino, slotherhouse e afins me fazem mais feliz. Eu dou gostosas risadas do absurdo. Não preciso pensar sobre nada, apenas aproveitar.
2 - Observar meus cachorros brincando - Tão inocentes e lindos e sem preocupação na vida. Fico vendo eles brincarem sem objetivo racional algum e isso enche meu coraçãozinho.
3 - Ler pessoas que não conheço, falando da vida delas - Sem compromisso de analisar profissionalmente nem nada do tipo. Só pela plena curiosidade e sentir que de alguma forma me conecto ou não com aquilo. Que bom que sua filha fez uma coisa engraçadinha e você conseguiu registrar. Arrasou na viagem internacional mesmo com perrengue. Valeu pela indicação desse livro que nem sei sobre o que é mas vou procurar.
4 - Vídeos de Bulletjournal - Deixa quem é dedicado se dedicar. Amo ver os vídeos das pessoas fazendo journaling uma coisa quase profissional, linda, maravilhosa, colorida e com design que enche os olhos. Sou fã de artigos de papelaria e ver a galera criando coisas incríveis me alisa o cérebro, pois só aproveito o resultado alheio.
5 - Lembrar que tá tudo bem sem medíocre - Não quero ser a melhor em tudo. Não quero ser dona de empresa. Não quero ser famosa. Tá tudo bem ser eu e só mais uma na multidão. O que eu faço eu faço bem, mas preciso ser reconhecida por tudo e todos por isso? No, thank you.
Por favor me conta o que você faz para deixar seu cérebro lisinho! Precisamos dar um descanso pros neurônios, então compartilha comigo o que funciona pra você!
ps: esse texto já estava pronto e a edição da newsletter dessa semana do meu amigo pessoal bruno, conversa muito com essa daqui, vale conferir!
Tive mixed feelings com The Empty Man. O comecinho pareceu legal. Depois ficou chato. Depois ficou legal de novo. Nele uma lenda urbana começa a fazer sentido conforme um investigador começa a descobrir e procurar respostas. Nota meh
O divertido The Final Girls é o típico cérebro lisinho pros fãs de slasher. Uma jovem em luto pela morte da mãe (uma scream queen dos anos 80) acaba “entrando” no filme pela qual ficou famosa. Todos devem se unir para acabar com um serial killer do acampamento. Bom demais a tiração de sarro dos clichês, o nerdola que sabe tudo de filme de terror, etc
Poderia ter uma hora a menos mas vale o view de Haunted Mansion. Uma mulher e seu filho chamam especialistas em casos espirituais pra ajudar a se livrar dos fantasmas de sua nova casa. Lakeith Stanfield, se você quiser o mundo eu te dou, te amo.
Invasion of the Body Snatchers (remake) faria um grande sucesso ou seria muito flop se lançado atualmente, mas eu amei. Um tipo de planta alienígena infecta e “clona” os seres humanos, fazendo com que comecem agir de maneira estranha. Um filme sobre paranoia como principal ponto de terror. Muito bom.
Chucky está mais feio AINDA em Child’s Play 3. O que menos gostei até agora porque se passa numa escola militar. Então claro que teriam comentários machistas e homofóbicos. Mas tem boas mortes até.
Enfrentei o maior medo da minha vida com The Exorcist e simplesmente o maior e melhor filme de terror já feito. Se eu tivesse assistido no cinema na época que lançou (mas eu não existia) imagino que simplesmente teria sido a famosa “experiência única”. Incrível. Quando acabou acendi um incenso de arruda. (e o melhor que consegui dormir a noite)
Mais um na vibe paranoia, vi Don’t Look Now e gostei. No começo pareceu difícil de engatar mais depois vai te deixando desconfortável e suspeitando das coisas e acaba muito bem. Nele um casal após a morte de um dos filhos, vai para Veneza e encontram duas irmãs, onde uma delas traz um recado pra eles da filha morta.
Tem algo errado com os franceses e Inside é a prova disso. Uma grávida, após a morte do marido, está prestes a parir quando é perseguida (dentr da própria casa) por uma mulher estranha. Até a metade do filme é muito bom com muito potencial e de repente vira uma chave pra outro filme, e no final parece que é um terceiro. Gore pelo gore e depois vira um rolê desnecessário em alguns pontos. É daqueles filmes que ilustram aquela nova onda de horror que os franceses causaram nos anos 2000. Mães e grávidas, evitem esse.
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Meu cérebro fica liso com The Big Bang theory. Eu já sei as falas de cor, eu já sei o que vai acontecer, então sentar e assistir é uma massagem cerebral. E nossa, como tentei ser útil pra sociedade unindo lazer e trabalho. Hoje em dia eu só quero saber de trabalho se pagar umas contas e bancar meus filhos.
Hmmm cérebro lisinho, gostoso demais!