Eu gosto muito de sair sozinha, ficar sozinha, aproveitar um tempinho comigo. Sábado saí sozinha, meu compromisso acabou mais cedo do que eu esperava e eu não queria voltar pra casa. Foi um daqueles dias que todos tem compromisso ou a demora na comunicação impede de algo ser combinado e realizado. Tudo bem. Parei pra tomar sorvete, fui no shopping almoçar e voltei pra ver filme com meus cachorros. Enquanto vivia tudo isso, me senti um pouco solitária e comecei a pensar sobre amizades utilitárias.
É um conceito meio burro e fora da realidade de que as pessoas precisam SERVIR pra alguma coisa. Claro que está relacionado a capitalismo, produtividade e tudo que há de errado na nossa sociedade.
Ao longo da vida tenho momentos em que acredito não ter muito a oferecer. Em outros percebo que sou reduzida a algo e isso me incomoda.
Assim que fiz 18 anos tirei minha CNH. Dirigir era um sonho pois significava um bom tanto de liberdade na realidade em que eu vivia. Entre grande parte dos meus amigos da época, eu era uma das únicas motorizadas. E eu sempre me decepcionava quando logo após receber um convite (e eu aceitar), já vinha a frase “você vem me buscar?”. Eu passava uns 40 minutos antes e pós rolê servindo de uber pra todo mundo. Claro que em certos contextos isso não era um problema pra mim porque eu sou cadelinha de viver ajudando todo mundo. Mas quem é explorado sabe quando há interesse genuíno ou se você está servindo de um meio para um fim que não é seu. Ou nem sempre sabemos né, sei lá.
O mesmo sentimento veio à tona quando fui morar sozinha após a faculdade. Eu pagava minhas contas com a pensão que recebia do progenitor antes dos meus futuros empregos, e era praticamente a única que não morava com os pais ou numa república. Todos queriam fazer rolê na minha casa. O pré rolê tinha que ser no meu apartamento. O rolê caseiro tinha que ser no meu apartamento. O after que ninguém queria ir pra própria casa dormir também. Amo receber visitas e fazer um cafézinho em casa ou jogatina de boardgame com quem eu gosto, mas tudo tem limite. Eu era jovem e queria sair de casa, viver o que o cubículo da cidade interiorana bauruense tinha a me oferecer (quase nada).
Isso continuou até quando me formei em psicologia.
Sou muito boa no que eu faço, mas me dói ouvir “ter uma amiga psicóloga é bom demais porque você ganha conselho de graça”. Gente que já pronunciou que precisava voltar a sair comigo porque sentia falta dos meus conselhos certeiros e precisava dar um jeito na vida. Pagar terapia ninguém quer né.
O que me levava ao pensamento de que: se eu negasse, qualquer uma dessas coisas nesses diversos contextos, as pessoas não teriam motivo para estarem comigo. Me chamarem pra fazer coisas. Conhecer outras partes de mim. Eu só era boa por fatores específicos. Fatores externos específicos. Nunca por quem eu sou.
Acho que já comentei que tenho uma certa questão com amizades num geral. São as relações que buscava afeto por não ter em casa. Já sofri muita apunhalada pelas costas, o que me faz sentir muitas vezes que ninguém gosta de mim de verdade. Sempre sinto falta de ter amigos, é como se fosse uma parte social minha que nunca estivesse realmente preenchida. E a grande questão se algum dia já tive amigos de verdade. (Hoje eu sei que eu tenho, amo vocês ok) Mas me volta no conceito de utilidade.
Uma das coisas que prego para quem atendo é que pessoas diferentes terão papéis diferentes na nossa vida, inclusive de amizade. Talvez uma amiga que vai sempre no cinema comigo seja ótima para conversarmos sobre o que estamos vendo, mas ela pode não ser a amiga do desabafo. E a amiga do desabafo pode ser aquela que nunca quer sair de casa e que nossa relação vai se resumir a momentos de conversas online. E por aí vai. E tá tudo bem.
Quando falo de me incomodar essa parte utilitária também não quero dizer que é preciso ser um zero a esquerda. Uma pessoa escrota e apenas venha a nós mas ao vosso reino nada. Toda relação precisa ser uma troca. De afeto, carinho, de presença, suporte, etc. Mas isso deveria ser o básico e não algo útil.
As pessoas são complexas e as relações na vida adulta também. Talvez achar esse equilíbrio de como levar, manter e fazer novas amizades após os 30 seja uma dificuldade geral. Ninguém tem tempo pra nada. Todos temos obrigações diferentes. Mas ainda é importantíssimo ter uma rede de apoio. Ter amigos, não importa qual tipo de amizade.
Tá tudo bem mandar um oi sumida praquela amiga que você não vê faz anos mas sente falta.
Tá tudo bem mandar um oi te acho tão legal vamo sair pra tomar um café qualquer dia praquela pessoa que você só conhece online mas tem vontade de ir além dos likes e comentários nos stories.
Tá tudo bem impor limites e dizer amiga não gostei disso que você disse/fez.
Talvez tirando a utilidade da equação, conseguiremos laços mais genuínos. Nem todo mundo precisa ser nosso melhor amigo. E sem escala talvez seja possível ter mais pessoas próximas da gente. Mais uma vez: genuinamente.
Espero que para um número seleto de pessoas o meu jeitinho seja o suficiente, e o seu também. Não precisamos de uma vida de servidão, prontidão e utilidade para todos.
Com a dupla de ouro Michael Caine e Aubrey Plaza, Best Sellers acompanha uma editora que lança o último livro de um autor aposentado e meio foda-se. Daqueles filmes pra não pensar muito com atuações ótimas. Gosto de filmes sobre livros. Aubrey Plaza por favor entre na minha casa e coma…
Tava com sono e decidi colocar The Flash e eu nunca senti tanta vergonha alheia, cringe e seja lá qual tipo de desconforto, vendo um filme de herói. Parece feito porcamente, mal renderizado, na pressa e pra tentar ganhar o público com service mas nada funciona. Sinto muito pelo diretor argentino, que deveria se possível voltar ao terror pra salvar a carreira.
Como quase todas as adaptações de livros do King, The Boogeyman é bem mediano. Uma adolescente e uma criança são aterrorizadas por uma entidade dentro de casa e tentam chamar a atenção do pai antes que merdas maiores aconteçam. Tem bons momentos de terror e o um bom elenco mas não ajuda muito. A estética da criatura é legal.
Birth/Rebirth foi o ponto alto da semana. Uma mãe solteira e uma médica do necrotério acabam unidas ao ressuscitar uma criança. Meio frankenstein moderno com questões de maternidade, ética e tudo aquilo que a gente gosta. Nesse, tudo funciona. Se você é mãe recente, talvez seja melhor não ver agora rs
Em The Passenger, um jovem num dia de trabalho normal é assediado por um funcionário e de repente, um outro cara surta e mata todos os outros colegas ali. Eles embarcam numa jornada de confronto ao passado e outras questões. É um filme bom e tenso em que você só quer que a situação acabe logo porque fica naquela linha tênue entre há esperança e vai dar merda.
Divertidíssimo o Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves. Tem aquela vibe caótica e lúdica de mesas de RPG. Bem direto na proposta e cumpre bem o que promete. O dragão gordinho é meu spirit animal. Hugh Grant é outro que precisa aposentar.
The Little Mermaid vem reacender a chama disney princess em nós garotas&gays anos 90. Obviamente chorei com Part of Your World. Esperava que a adaptação fosse pior mas gostei. Halle Bailey merece o mundo.
Eu amo muito trasheira e estava esperando muito por Good Boy. Um milionário conhece uma moça no tinder e começam a se apaixonar. Mas ele tem em casa um homem vestido de cachorro e que vive 24 horas como tal. Divertido e em certo ponto dá pra prever o que vai rolar mas vale ver. Meninas, saibam a hora de cortar um homem da vida de vocês, não importa quão rico ele seja.
Terminei a segunda temporada de The Bear é simplesmente perfeita. Não tem um defeito. Tem participações especiais impecáveis. Eu amo tudo dessa série.
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Ei
Miguel Beingala
Welp... eu tive uma história. mas nem sei como desenrolar ela aqui. Mas eu tive. E foi uma bosta. É