Gunter é meu chihuahua mais novo. O macho da casa. O cachorro que eu peguei pra fazer companhia pro meu cachorro. Diferente da Kiki, Gunter é um cachorro escandaloso. Ele tem medo de tudo e todos. Não gosta de toque, não gosta que pegue no colo e só permite carinho quando ELE vem pedir sentando próximo a mim apenas quando estou no sofá. E é claro que as pessoas na rua não sabem disso.
Quando vamos passear é um escândalo do caralho, porque o coitado tem medo e reage latindo. Eu aviso as pessoas que ele não gosta de atenção, mas tem gente que insiste. Quanto mais a pessoa insiste mais ele late e avança pra morder. Tá errado?
Isso tem muito a ver com o imaginário do povo sobre o que esperam de um bichinho. Geralmente o esperado é que o bicho se comporte como um enfeite de pelúcia, e não como um animal real, com a própria personalidade e questões. Muita gente então não está preparada pra ter um pet. (aplique isso para filhos)
E quando eu fico com raiva, estressada, querendo esganar aquele pescocinho lindo e fofo, eu penso no quanto me dá vontade de surtar quando os outros não respeitam os meus limites e as minhas vontades. Lembro do meu segundo namorado que era maconheiro pra caralho e num rolê com os parça dele, só eu não fumava. Um amigo dele ficou trinta minutos discursando, tentando me convencer a tragar e “pelo menos” experimentar. Eu fiquei trinta minutos negando. Em algum momento, já chapado pra caralho, ele desistiu. E eu só queria ir embora mas não podia mas essa é outra história de quase morte pra outro dia.
Eu não gosto de cerveja e já me negaram muitos dates por causa disso. Ouvia direto das pessoas que não tinha graça beber sozinhe. Nunca liguei de frequentar bar e afins, eu só pediria algo diferente. Se a pessoa ia em casa, deixava aberta a possibilidade dela levar a própria cerveja. Mas mesmo assim isso era chato pros outros e preferiam não ir. Nesse cenário também existiram os insistentes. Aqueles que iam e insistiam pra eu beber, só um pouquinho. Que pediam dois copos e enchiam, colocando na minha frente, mesmo eu negando. Onde já se viu jovem que vai no bar e não bebe. Não preciso falar que chegou num ponto da minha vida que eu me forcei a aprender beber cerveja pra poder me encaixar. Pra ter o que beber nas festas de república. Pras pessoas aceitarem sair num date comigo. Ainda bem que, mesmo tarde, eu aprendi que meus limites não precisam ser cruzados por conta dos outros.
Se isso acontece antes e durante dates, vocês podem imaginar que também rolou pra sexo. Mas aí já estamos falando de abuso e falta de consentimento. Aqui imagino que basta ser mulher pra passar por isso.
Crescendo eu não tinha nem meus limites espaciais respeitados. Na casa da minha avó é proibido porta trancada (ela esconde as chaves). Ela queria conversar enquanto eu estava no banho ou cagando, entrava no banheiro e ficava ali. Interrompia meus estudos pra vir brigar que eu só ficava no computador o dia inteiro. Nos dias que eu não precisava acordar cedo, entrava no quarto berrando sete horas da manhã pra perguntar o que eu queria de almoço e achava ruim se eu não dava uma resposta que ela queria. Isso quando não mandava o filho dela esmurrar a porta e a janela, acendendo a luz na minha cara.
Não sou o ser iluminado que nunca esteve do outro lado. Já fui muito insistente principalmente tentando convencer minhas amigas saírem comigo. Ficarem mais um pouquinho. Emendar um rolê no outro. Tudo porque eu não queria ficar ou voltar pra casa. Também sou a pessoa das soluções. Se você vier reclamar algo pra mim é provável que eu te ajude traçar pelo menos uns três planejamentos pra resolver seu problema. E arduamente aprendi que nem todo mundo quer uma solução e hoje eu fico bem caladinha. A não ser que você me peça ou me pague pra isso. Desculpa todo mundo que eu fui chata e insistente e não respeitei os limites.
Gunter dá sinal antes de atacar. Um dia enquanto eu recolhia o cocô dele na frente de dois caras, um deles disse “esses pequeninos é que são bravos, uma mordida já causa um estrago”. O outro tomou como um desafio e respondeu “ah não morde nada” começou a agachar e estender a mão pro meu doguinho. Quando alguém dá atenção pro Gunter, primeiro ele rosna. Mostra os dentes. Depois ele late. E se a pessoa insiste, aí sim ele morde. Quase jogando a merda do saquinho na cara da pessoa eu só levantei e disse “ele morde sim” e saí puxando meus cachorros pra longe do desafiante. Ninguém respeita meu cachorro na rua porque ele é pequeno e fofinho. Ninguém me respeita porque eu sou mulher e boazinha.
Diferente do Gunter, eu não posso rosnar, latir e morder. Tive que aprender outras maneiras de pronunciar meu desconforto. Meu não. Não quero. Não vou. Não posso. Não gosto. Não bebo, não fumo, não quero experimentar. Tive que me anular muito e pagar com partes de mim pra ver que nada e nem ninguém vale aquilo que é inegociável. Às vezes eu esqueço tudo isso e ainda pago com a minha saúde mental. É muito difícil desapegar de ser agradável o tempo todo. Tem situações que eu preciso ser um pouquinho mais como o Gunter.
Todos os dias eu tenho vontade de pegar ele no colo, apertar, amassar e beijar esse rostinho lindo. Mas ele não gosta. Ele não quer. Quando ele quiser ele me comunica isso. E foi na marra, através do meu cachorro, que eu aprendo a cada dia mais respeitá-lo e amá-lo do jeitinho que ele é. Que não é porque ele foge de mim quando vou fazer um carinho surpresa, que significa que ele me odeie e nunca mais olhar na minha cara. Quanto mais eu respeito seu espaço e seus limites, mais ele confia em mim e mais ele se sente seguro pra comunicar a hora certa das coisas. Nem todo mundo gosta do meu cachorro. As pessoas olham torto porque ele não tá no padrão esperado. Comigo e com você não vai ser diferente. Quanto mais limites nós colocamos, quanto mais nos priorizamos e damos sinal do que não queremos, talvez menos pessoas passem a gostar de nós. E talvez, isso seja pra melhor.
Tilda Swinton novinha em Friendship’s Death representa um robô alienígena que é enviado a Terra como mensageiro da paz. Porém ela cai no meio da guerra no Amman e tem altos diálogos filosóficos em meio bombardeios e análises da condição humana. Muito atual, vale a pena.
No trem da hype fui conferir The Umbrellas of Cherbourg e adorei a maneira como ele é inteiro cantado. É uma tragédia romântica onde a protagonista se vê longe de seu novo amor que vai pra guerra e por conta da chata da mãe acaba se envolvendo com outra pessoa. Lindíssimo visualmente.
C’mon C’mon é daqueles filmes que prova o quanto Joaquin Phoenix é um bom ator. Ele e um sobrinho saem numa viagem entrevistando outras crianças com perguntas sobre a vida enquanto lidam com o caos da própria família. Maravilhoso.
Fui enganada com Encouter. Um agente da marinha sequestra seus dois filhos dizendo que está numa missão contra uma ameaça alienígena. Tenta ser mais profundo do que realmente e no fim boring. Mas o Riz Ahmed é sempre muito bom no que faz. Beijo lindinho
Coitado do elenco de One True Loves. Depois do desaparecimento (e dado como morto) do marido, a protagonista está prestes a casar com um novo amor após a superação do luto. De repente o primeiro marido volta vivíssimo. Filme ruim. Cenas horríveis e bregas. Péssima montagem.
E a última bomba foi Case 39. Uma agente do serviço social pega pra si uma criança que estava prestes a morrer pela mão dos pais e começa todo inferno. A criança chama Lilith, já não era sinal suficiente? Péssimo, como que um dia a Renée Zellweger ganhou um oscar ainda é um mistério pra mim.
Vi a segunda temporada de Good Omens e não estou sabendo existir. Neil Gaiman não tinha esse direito. Aceito o livro de presente, é um dos únicos dele que não tenho. Amo e protejo Michael Sheen.
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Pessoas que negam rolê só porque alguém não bebe são FRACAS DEMAIS