Eu não sou escritora.
Quando criança, tive vários diários. Com capas de desenhos fofos, cadeados que enferrujavam e um estojo de canetas gel de todas as cores possíveis pra deixar tudo com um toque de importância pessoal. Escrevia uma página por dia pra relatar o que fiz, o que senti e o que quis fazer. Me imaginava chegando à velhice com uma coleção imensa de diários empilhados num canto empoeirado qualquer. Recorreria a eles caso não lembrasse de algo ou precisasse rir de mim e entrar em contato com a Natália dos primórdios. Isso até eu fixar minha atenção em alguma outra atividade ou esquecer de escrever por um/dois dias. Que acabavam se tornando um/dois meses e até um/dois anos. Não voltava no diário começado, abria outro e começava o processo todo de novo. Nenhum sobreviveu ao tempo ou me acompanhou até aqui.
Eu não sou escritora.
A internet passou a fazer parte da minha vida e com ela pude vivenciar a época dourada dos blogs. O diário passou a ser online. Aqui a caneta gel foi substituída por templates coloridos e qualquer coisa que pudesse ser editada no HTML. Era uma bomba de informação visual. A estética me tomava horas, meus posts minutos e a interação quase nunca acontecia, mas era divertido mesmo assim. Adorava ler sobre outras pessoas que mal tinha informação para imaginar seus rostos, mas sabia que a fulaninha do interior lá de outro estado sentia as mesmas coisas que eu. Tentei ter blog pessoal. Tentei ter blog pra falar de filme. Tentei ter blog pra falar sobre a vida. Tentei, mas foi por pouco tempo que consegui.
Eu não sou escritora.
Na adolescência descobri o mundo das fanfics. E descobri que eu já as escrevia desde criança. Foi a obsessão por My Chemical Romance e um grande grupo online de amigas que incentivou a prática. Escrevíamos juntas uma mesma história. Cada uma um parágrafo. No chat do MSN. Líamos umas pras outras. Inseríamos outras bandas. Outros famosos. Nos colocávamos como protagonistas sortudas que realizavam os mais diversos sonhos. Minha primeira fanfic, ainda criança, foi um livro que fiz sobre como vivi um romance com o Homem Aranha em Nova York. Eu também era heroína e ele por um milagre divino se apaixonava por mim. A minha maior fanfic, de MCR, que teve mais de 800 páginas envolvia eu e as amigas como personagens e era o puro suco da novela mexicana cheia hormônios e cenas de atração e sexo escrito por uma virjona que mal sabia beijar na boca.
Eu não sou escritora.
O peso da vida adulta vem com adaptação. Abrir mão. Chegou uma época que eu não conseguia escrever nada além do que a faculdade me pedia. Depois, nas duas pós que fiz. Com três TCC’s, trabalhos em grupo, tarefas, copiar matéria, quem teria tempo pra usar palavras fora do contexto acadêmico? Alguém que não era eu, claramente. Nove anos de estudos pra três diplomas e nove anos que não toquei em um diário ou caderno de fanfic. Nove anos que a escrita não me trouxe nenhum tipo de prazer ou satisfação. Com dez anos de formada, estou a uma década escrevendo em incontáveis caderninhos os relatos dos meus clientes. Já perdi a conta de quantos foram utilizados por inteiro, esses sim, cumpriram completamente seu propósito
Eu não sou escritora.
Assim que terminei um namoro horrível decidi que era hora de voltar aos diários. Mas não fazia mais sentido chamá-los assim. Criei o “caderninho da crise existencial” que era mais parecido com o que faço aqui do que simplesmente contar do meu dia e registrar meus medos mais profundos. Dividia cada nova página por tema. Esses tempos arranquei todas suas páginas e o transformei no caderninho do curso de tarot.
Eu não sou escritora.
Hoje, só na minha mesa de trabalho em espaço visível, eu tenho nove cadernos sendo utilizados. Dois em bolsas diferentes pra quando saio de casa. Uso agenda. Faço um/dois cursos por mês. Tenho 15 cadernos guardados em uma gaveta, a maioria novos e outros com objetivos em pausa. Não passo um dia sequer sem escrever algo à mão.
Eu não sou escritora.
Na vida online então, fica difícil. É rede social. É rede social profissional. Postagem pra linkedin. Baboseira, exposição. Mas nada disso parecia suficiente. Uma coceira começou pequena e de repente aumentou ao ponto que virou um objetivo concreto: eu precisava começar (voltar) a escrever. E aí eu criei a newsletter, antes daqui no falecido get revue, que tomou o mesmo rumo dos meus diários. A periodicidade foi baixando. Fiquei meses sem escrever depois voltava das cinzas. Depois fiquei meses de novo sem. E esse ano sigo firme no compromisso semanal. É mais um compromisso comigo do que com você, afinal é uma necessidade que eu preciso alimentar em mim.
Eu não sou escritora.
A newsletter veio como uma maneira de eu treinar minha escrita. Tudo o que me proponho a fazer me incentivo a estudar e aprofundar porque, se eu não sei, não vou ficar me rotulando e fazendo como soubesse. Então aqui é como se fosse isso. Eu pratico, até quem sabe um dia ficar boa o suficiente. Mas não só pra isso. E mesmo assim, não foi suficiente.
Eu não sou escritora.
Pra sanar essa coceira (coisa que precisa ser logo porque como uma alérgica a tudo, detesto ficar prolongando sofrimento), esse ano eu resolvi arriscar. Dar um passo a mais, ir além da minha zona de conforto e daquilo que conheço. Comecei a escrever contos. Comecei com editais de temáticas pré-definidas para serem publicados em antologias. Quando recebi meu primeiro “aprovada”, tremi como se tivesse beijando pela primeira vez uma boca que já cobiçava a tempos. Eu não sabia que isso era possível. Passei a escrever todos os dias. Deixei contos de lado porque não gostei. Parei no meio do caminho porque não sabia pra onde ir. Mas escrevo todos os dias. Nem que for um parágrafo ou uma linha. Pra quem foi silenciada por tanto tempo em tantos contextos diferentes, é bom encontrar a própria voz. Dar sentido praquilo que eu sinto e botar no mundo, e principalmente, perceber que existem outras pessoas que se identificam e que de alguma maneira eu possa ajudar e tocar o outro. Afinal eu tenho essa síndrome de salvadora do car*alho né, até na profissão ganha pão.
Posso não ser a mais prolixa e cheia do vocabulário munido com palavras difíceis e bonitas. Posso não ter a maior criatividade e imaginação inovadora da minha geração. Pode ser que quase ninguém me leia. Pode ser que meu primeiro livro, que está dentro da minha cabeça faz anos, flope e falhe miseravelmente. Pode ser que um dia escrever não seja algo que faço despretensiosamente. São muitas coisas que podem ser.
Eu não sou escritora. Mas pode ser que eu já seja.
Se tiver interesse em ler alguns dos meus contos publicados, deixo aqui o link de cada antologia que já está disponível!
Cometi o erro de ver Salò, or the 120 Days of Sodom e é por isso que a gente não pode confiar na opinião de cinéfilo. Uns fascistas sequestram quase vinte jovens e os torturam de maneira física, mental e sexual. Na real? Tem outras maneiras de criticar o fascismo. Não perca seu tempo.
Amo as obras irmãos Duplass e nesse tem nossa rainha Greta! Em Baghead quatro atores vão pra uma cabana no mato pra criar um filme e de repente um cara com um saco na cabeça começa assustá-los. Bem mumblecore com um plot legal.
La Amiga de mi Amiga poderia ser traduzido como rebuceteio. Sapatonas na casa dos trinta se apaixonam, brigam, pegam a ex da amiga e sofrem. Sounds familiar? Bem legal, recomendo às sáficas de plantão.
Fui com uma expectatica com Empire of Passion e me frustrei. Um cara vira amante de uma dona de casa e juntos eles matam o marido dela e jogam o corpo num poço. Ela finge que ele viajou e o espírito começa a aparecer pra pessoas da vila (e pra ela). O que incomodou é que nesse a “paixão” nasce de um est*pro e ela é mal tratada o tempo todo.
Tava com saudades de Rob Zombie e vi The Munsters, mas putaquepariu que filme HORRÍVEL. As atuações são de centavos. O filme tenta ser uma comédia mas falha miseravelmente. É lindo visualmente, mas só isso. Mil coisas acontecendo ao mesmo tempo. Sem condições.
Entrei no trem da hype e fui ao cinema ver Barbie. Que praticamente é o melhor filme do ano. Só isso.
The Lunchbox dá um quentinho no coração. As marmitas preparadas de uma esposa dedica caem diariamente na mão errada, ao perceber ela passa a trocar cartas com o degustador de sua comida. Muito bom!
Um filme ótimo pra ilustrar que a vida do funcionário não vale nada pra empresa é Between Two Dawns. Um funcionário sofre um acidente no trabalho e a empresa tem que lidar com as consequências disso… já sabe né
Dobradinha Greta&Duplass, fui de mais um mumblecore, com Hannah Takes de Stairs. A protagonista termina o relacionamento com um encostado e acaba se relacionando com dois colegas de trabalho muito diferentes um do outro. Esse gostei menos, mas legalzinho.
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Amei essa news, já providenciando meu caderninho de crise existencial, kkk. Bjos