Dying for Sex é uma série rapidinha de uma temporada e completa. Todos os episódios são perfeitos e um soco no estômago. Se você não sair pensando sobre, maravilhado e ovacionando tudo que a experiência tem a oferecer… leve pra terapia e repense sua existência.
Molly está com o câncer de volta, dessa vez se espalhando pelo corpo todo. Ela tem data de validade pra existir. E é isso que decide fazer: viver de fato. Mas não daquela maneira delulu de que tudo é lindo e flores. Ela quer se conhecer e saber do que gosta. E principalmente: ter um orgasmo com outra pessoa antes de morrer.
Pra isso ela decide se divorciar do marido que a vê apenas como uma coitada e a reduz a doença. Eles não transam há anos. E nisso ela conta com a ajuda de quem sempre esteve ao seu lado: sua amiga Nikki. A amiga com tdah que é menosprezada assume um dos desejos da amiga “quero morrer do seu lado”. Ela não passa ser apenas a cuidadora que resolve b.o. mas sua maior incentivadora, com apoio real oficial.
Passar um luto em vida definitivamente é um processo. Ele não ameniza a dor da perda, mas já começa a parcelar a ausência de muitas coisas que estão por vir. (ou faltar, risos)
Em sua jornada de se sentir desejada por estranhos em aplicativos, Molly não usa a cartada da doença. Ela não conta sobre isso aos seus pretendentes, afinal ela quer só fuder gostoso enquanto consegue. E eu amo o ponto de vista da série sobre sexo aqui, começando que não é nem um pouco demonizado e em momento algum associado a doença, sujeira, pecado ou qualquer julgamento de valor moral conservador. Sou muito fã quando uma obra consegue de fato ir além quando o assunto é sexo. Na série , tem vários caminhos.
O primeiro é para o autoconhecimento. Como mulher a gente precisa aprender a deixar de olhar para o prazer como algo exclusivo do outro (principalmente do homem). É um exercício e um hábito saber olhar pra si. Num sistema patriarcal, mulheres aprendem a performar e servir, vivendo na linha tênue entre ser puta e santa. Goste de sexo mas não muito. Quantas mulheres além de nunca atingirem o orgasmo, não fazem idéia do que gostam na cama? Entender como seu corpo funciona, seus limites e aquilo que te dá prazer, gira uma chavinha em como lidar com o sexo em si. E o que eu mais gosto, que é mostrado na série, é o quanto Molly está aberta às possibilidades. Ela está disposta a testar, ver, aprender, sentir como é. Não como uma obrigação, mas como uma brincadeira. O sexo se torna lúdico, leve e libertador.
O segundo é para a conexão com o outro. Sexo também cria vínculos. Não como um passo pra seguir a escada relacional. Veja bem, você não precisa transar com alguém e virar ficante depois namorada e esposa e mãe e avó e cinzas. Na série Molly enquanto está se descobrindo no mundo kinky e de fetiches, tem relações super proveitosas e bacanas com as pessoas que se relaciona. Não necessariamente são pessoas que ela está saindo sempre fora do ambiente controlado do seu apartamento, mas isso não as torna menos valiosas. São momentos onde ela acaba tendo acolhimento, carinho e conexão. Suas relações são ótimas e válidas do jeito que são, e ela não insiste onde não se sente confortável. Ela inclusive pode ficar só pelada comendo um petisquinho e conversando amenidades caso o sexo não esteja rolando. Deixa pra outra vez, vamos ficar de boa. Mas a chave da confiança e desse vínculo vem desse sexo saudável e mútuo. Há diálogo, combinados, limites e principalmente consentimento. Algumas dessas pessoas não são as mesmas que vão acompanhar o progresso de sua doença ou segurar sua mão no hospital, mas foram de extrema importância na sua jornada. Cada uma do seu jeitinho.
O terceiro é para a libertação. Já falei algumas vezes aqui, que tudo é político. Sexo também é. Ser uma mulher livre, dona do seu próprio corpo, consciente do seu próprio prazer etc é revolucionário pra caralho. Na série, é através dessa libertação pelo sexo que a protagonista se sente livre pra tomar as rédeas da própria vida. Da busca pelo prazer. De escolher com quem ela quer compartilhar o que. De encarar seus traumas&abusos sofridos no passado. De colocar limites pras pessoas. De ser gentil com os outros ao seu redor. De escolher o que fazer com a própria vida, doença e morte.
Mas o mais importante de tudo é que a série traz uma mensagem que também não canso de repetir: nossas amigas podem ser o amor da nossa vida. Não precisamos que seja uma pessoa que conhecemos desde criança. Que esteve ali em absolutamente todos os momentos da nossa vida. Nunca é tarde pra encontrar o amor na amizade. Pra fazer novas amizades. Pra se abrir a possibilidade de estar vulnerável, pedir ajuda e ser/ter suporte. Já fiz vários textos sobre isso aqui, é um tema que não canso.
Desde ano passado venho experimentando e refletindo sobre os dois pontos: a amizade e o sexo. Cada dia que passa entendo que minhas amigas são prioridade pra mim. E tenho descoberto na prática novas possibilidades de me relacionar com afetos, me conectar e lidar com o sexo. Tem sido uma jornada e tanto, mas que principalmente continua me aproximando de mim. Venho escolhendo melhor e tendo experiências de maior qualidade ao invés de quantidade. Em ambas vertentes. Viver é incrível.
Acho que de vez em quanto todo mundo precisa olhar pra morte pra colocar a vida em perspectiva. Não precisa estar a beira dela, mas a gente sabe que é um lembre sutil, um post it esquecido que a gente escolhe não olhar na direção. A maioria de nós já chegamos na idade de perder alguém. Ou estar prestes… Ou até mesmo, estamos nós adoecendo, envelhecendo… Mas apesar de qualquer dor e medo que isso traga, faz parte e não precisa ser esse caos destruidor todo. Gosto muito da personagem da Amy que trabalha com os pacientes que estão prestes a morrer e é encarregada de explicar o processo todo. Ela explica de uma maneira tão clara e simples, e completa, sobre como seu corpo vai morrer. Como você vai se sentir. Com uma naturalidade ao invés de peso, que receber essas informações traz até um conforto ao invés de completo terror. Com sua energia caótica, ela reforça que morrer é mais um marco como outro na vida. Nosso corpo sabe o que fazer quando a hora chegar.
Olho pras minhas limitações e o decair do meu corpinho, que faço o que está ao meu alcance para cuidar e manter o mais saudável possível. Toda vez que sinto algo mudando, estranho e diferente tento pensar que ainda dá tempo. Mas que se não der, eu tenho o hoje. O que estou fazendo hoje pra quando meu tempo acabar eu de fato olhar pra minha vida e “nossa eu fiz o que pude, mas vivi pelo menos um pouquinho né”. Queria que o capitalismo acabasse e eu pudesse de fato viver mais. Enquanto isso só espero aproveitar as florzinhas da vida na rachadura do asfalto que é existir.
Usei o feriado pra maratonar a série. Assisti seguidos os oito episódios numa sentada só. Antes de dar play no primeiro, estava bem borocoxinha, de TPM, me sentindo um lixinho. Terminei com lágrimas, com um agridoce gostinho de estar viva. Com vontade de abraçar bem forte todas as minhas amigas e olhando no fundo dos olhos de cada uma poder dizer “Obrigada, eu te amo”. Vou fazer isso assim que tiver a oportunidade. Também vou beijar intensamente meus dates e agradecer. A vida acontece enquanto a data de validade não chega.
Screamboat Uma balsa em Nova York traz uma longa noite aos seus passageiros que precisam sobreviver ao steamboat Willie, o rato assassino criado por Walt Disney… Divertidíssimo! Feliz demais de ver uma trasheira no cinema. Não se leva a sério, faz várias piadinhas e olha… Risos gostosos. Minha crítica completa no
.Locked Já existem mil versões desse filme e a brasileira é a melhor. Na esperança de conseguir grana rápido roubando um carro, um jovem fica preso numa e dominado por um sádico que deveria ter buscado terapia ao invés de vingança. Infelizmente nem os grandes nomes do elenco salvam.
O’Dessa Um dos piores musicais que já vi na vida, misericórdia. Daqueles que tenta ser cyberpunk mas é só daquelas histórias que não vai pra lugar nenhum além de “o amor salva tudo” mesmo num futuro totalitário e violento. Bitch please. Nenhuma música memorável, nada. pfff
Peter Pan’s Neverland Nightmare Olha o domínio público virando terror de novo! Uma criança é sequestrada por um cara… hm… problemático e Wendy (irmã da criança) está na missão pra encontrá-lo. Não é um filme bom mas não é tão ruim assim. Tem uma visão bem diferente e até criativa pra essa versão.
Cannibal! The Musical Na busca por ouro e mulheres (risos), um grupo acaba perdido, com fome e muitas músicas prontas para serem cantadas e enfrentar os problemas. Podreira divertida que quem fez com certeza riu ainda mais e se divertiu pacas. Tem seus problemas mas orra… tem seu valor!
Drop Uma mãe disposta a voltar conhecer gente, sai no seu primeiro date por aplicativo. O jantar tinha muito potencial mas muitas coisas acontecem. Tava extremamente tenso e desconfortável e interessante… até o último ato. Quando vira filme de ação, me perde. Mas ainda é um filme que vale ver.
Fantastic Planet Eu não entendi nada mas entendi tudo? Clássico filme pra ver chapado e ao mesmo tempo pensar numa crítica social foda. Ai ai franceses, só vocês mesmo. Estranho, animação com scifi com sei lá mais o que. Uma misturinha toda e tal. Se você quer uma carteirinha de cinéfilo, tem que ver esse.
Sometimes I Think About Dying Fran se acha desinteressante e é uma introvertida, depressiva que além de pensar em morrer, sente um negocinho com a chegada de um novo colega de trabalho. Bem sensível e delicado. Fala de saúde mental e de uma vida morna e sem graça, sem ser mais do mesmo. Adorei!
One From the Heart Um casal tóxico está fazendo cinco anos de relacionamento e a moça decide separar. Ambos vão viver novas coisas mas… Esse filme é tudo de errado que é romantizado pela monogamia. Passei muito ódio e detestei. Uma estrela pela trilha sonora inteira feita e cantada pelo Tom Waits. Outra pela sedução do Raúl Juliá. Apenas.
Black Mirror 6ª Temporada Tem episódios muito bons e outros achei meio que fugiram da proposta? Mas o primeiro (Joan is Awful) é o melhor. Gosto muito da variedade de elenco babadeiro que trazem sempre pra série.
Dying for Sex Molly vai morrer de câncer e decide morrer ao lado da sua amiga, e antes disso se descobrir sexualmente (e principalmente atingir um orgasmo com outra pessoa antes de morrer). Já falei tudo nessa newsletter. Mas repito: uma das melhores séries da atualidade. Impecável em roteiro e atuações. Qualidade do começo ao fim e rapidinha de assistir.