Apesar de ser uma pessoa (como qualquer outra) que tem muitos pensamentos dentro dessa cabecinha, sou muito desistente de argumentação. Dificilmente eu vou dispor de utilizar mais de dois neurônios pra convencer qualquer um de qualquer coisa. E isso não é sobre inseguranças ou ansiedades.
Com a minha família não existiam diálogos, apenas ordens e gritaria. Muita gritaria. Se minha avó falasse que o céu era vermelho e eu ousasse corrigir que era azul, ela provavelmente diria que é vermelho sim e se foi azul é por culpa de alguma coisa ou alguém mas que pra ela é vermelho e ponto final. Era difícil vencer quando se convive com pessoas fechadas em suas verdades absolutas e que nunca admitiam estar erradas ou pedir desculpas. O máximo era “me desculpa, se te ofendi mas a culpa foi sua por…” Bom, vocês devem saber como é.
Quando adolescente eu ainda tinha o fogo da discussão em mim. Gritava de volta, argumentava com a parede, dava muito murro em ponto de faca. Defendia meus gostos como os melhores que poderiam existir. COMO ASSIM VOCÊ NÃO GOSTA DE PULP FICTION? Risos. As coisas são simples demais dentro da nossa cabeça. E quando a cabeça tá enfiada no próprio cu, fica difícil entender e vislumbrar o universo de possibilidades que existe para além do nosso reto.
A maturidade veio junto com o cansaço. Mas aí esse cansaço virou um filtro. Eu teria de aprender quais batalhas escolheria pra direcionar minha energia e esforço. Percebi um limite, olhei pro outro e pensei: tá bom, isso não é sobre mim. (insira ANOS DE TERAPIA aqui) Quando for, ou me afetar, eu falo (dependendo não, mas isso fico pra outro dia). Não quero fazer uma dissertação sobre uma coisa que você nem tá disposto a me ouvir na realidade. Minha ficha caiu um dia quando namorava um cara esquerdomacho engraçadão amigo de vocês aí do interior, que era o chorume em pessoa como ““““parceiro””””. Num dos surtos dele, enquanto gritava com o dedo na minha cara e se batia fortemente no próprio rosto (pra não bater em mim)… resolvi não engajar. Fiquei parada olhando pra parede e ele ficando mais revoltado porque “se eu não estava dando atenção, eu não me importava com ele”. Até que ele fez a ameaça mais velha de todas: “eu vou embora”. Pois pode ir. “Mas se eu sair por essa porta, eu nunca mais volto”. Ok, tá no seu direito, pode ir. E ele repetiu isso umas cinco vezes. Claro que ele não foi e ficou chorando sobre o quanto eu era insensível pois não tentei convencê-lo de não ir ou porque ele deveria ficar.
Daí pra frente, só pra trás. Saber quando a escolha é do outro, muda tudo. A diferença é o que a gente faz com isso. Vale deixar o disclaimer de que mais uma vez: tem que saber a linha entre os limites, se impor etc etc Mas pra variar: são muitas nuances. O ponto foi que eu aprendi a ouvir por simplesmente ouvir e não pra revidar/defender o meu ponto custe o que custar. Não sou eu que vou alimentar dinâmicas que vão me trazer mais dor de cabeça do que algo realmente construtivo. Acho que são detalhes que depois de muito tomar no cu, vamos aprendendo a perceber e diferenciar. (nem sempre e nem todos né, risos nervosos)
Dei toda essa volta pra falar que, claro, eu sei que eu não sou todo mundo… mas tenho observado um fato curioso. As pessoas ESPERAM que do outro lado sempre venha um argumento, uma tentativa de convencimento ou qualquer outra coisa do tipo. Um exemplo é falar sobre filmes. Bom, além de colocar aqui, o espresso da semana também vai pros stories do instagram. Dou uma breve opinião, ou uma opinião mais completa em forma de crítica geralmente lá no Boca do Inferno. E obviamente sempre vem gente discordar de mim. Se é no site cheio de homem hater porque eu sou mulher, eu nem respondo. Já no insta tudo que posso dizer é “entendo”. Principalmente quando falamos de GOSTOS, eu jamais vou obrigar ninguém a ter a mesma visão opinião etc sobre qualquer coisa. Você pode odiar o filme favorito da minha vida. Tá no seu direito.
Claro que é bacana CONVERSAR SOBRE. Quando alguém de fato pede minha OPINIÃO e não um argumento. “Deixa eu entender porque você gostou tanto disso aqui”. E é gostoso não receber de volta armadilhas em forma de perguntas. Às vezes a pessoa não quer de fato entender o meu lado, e sim de alguma forma, comprovar pra si que está certo. Isso não é sobre mim mas, ai meu anjo, me poupa sabe.
Mais curioso ainda é que esse tipo de situação é elevada a enésima potência quando falo de não-monogamia. Sair desse armário gera certa curiosidade. No começo eu fui estudar e estudar e estudar pra como se de alguma forma, precisasse provar pro mundo que não me dei esse título atoa. Mas parece que falar essa duas palavras mágicas, acende uma SIRENE que levanta MUROS de autodefesa. Exemplo: estava com um grupo conversando sobre relações num geral. Um casal falava sobre coisas que eles acreditavam e eu, inocente, pontuei que isso que eles defendiam eram pontos base inclusive da não-monogamia. A reação imediata foi a mudança no tom de voz seguido de “Natália, eu e fulano estamos muito bem assim, não vamos abrir o relacionamento e nem virar não-monogâmicos, pode parar”.
Outro dia nos primórdios, também fui dividir a descoberta com um antigo amigo. “Me descobri não-monogâmica” e o que eu ouvi foram vinte minutos de argumentos sobre como isso não funciona, como tudo daria errado na minha vida etc etc. E eu só disse essas quatro palavrinhas aí, nada mais.
Num outro momento, saindo com uma pessoa que já sabia desse fator sobre mim, me questionava cada vez que saíamos. Todo date de uma forma ou outra eu tinha que argumentar em favor da não-monogamia, de como aquilo fazia sentido pra mim, como viria a ser dali pra frente, conceitos etc etc. Eu não quero ser porta-voz de nada. Minha vontade era só de mandar um “vai estudar”, mas às vezes sou educada até demais.
Entendo que sair de um padrão relacional enraizado e tido como único aceito socialmente gera um mix de sentimento nas pessoas. Medo, insegurança, risco iminente, curiosidade, desejo, enfim. Mas pra além disso, principalmente com o advento da internet, parece que todos estão condicionados a viver num eterno pisar de ovos. Onde para poder ser, gostar, viver qualquer coisa que seja, é preciso ter uma bagagem gigante de informações, argumentos, teoria, prática etc etc etc. Acho que a maioria esqueceu que a vida real não é uma thread do twitter. Reforço: não é preciso vencer o mundo na base do argumento para poder viver/ser qualquer coisa. Nem tudo é uma discussão. É preciso tirar a cara das telas e reaprender a conversar de verdade. CONVERSAR, não converter. Eu não quero te converter pra nada não.
E pensar que tudo isso começou quando lá em 2005, eu falava que LOST era a melhor série do mundo no meu coração. Ainda é, não vem tentar me convencer do contrário não hein. Mas se você quiser maratonar a série comigo pra gente conversar sobre, eu topo.
La Bête Ter emoções é uma ameaça social, então uma gata decide purificar seu dna que faz ela experienciar suas vidas passadas pra se livrar de sentimentos mas conhece um twink com quem teve conexões fortíssimas e… é um belíssimo filme! O plot pode parecer mais do mesmo, mas a execução meus amigos…
The Possessed Um ex-padre-alcoolatra é convidado pra investigar uma escola só para garotas onde as coisas e pessoas começam pegar fogo do nada. Parece um spin-off copia e cola de O exorcista feito diretamente pra TV. Mas ainda assim é satisfatório de assistir!
El Espinazo del Diablo Com a guerra civil da Espanha quase chegando no fim, leva um garoto pra um orfanato e coisas demais acontecem. O flerte de fantástico com questões sociais bem marquinha registrada do Del Toro. Às vezes o ritmo fica meio bagunça mas tem personagens cativantes.
La Femme d’à Côté Tá vendo gente, eu também assisto FRANÇOIS TRUFFAUT OK? Risos. Uma família tá de boa, até que um casal se torna seus novos vizinhos. E a mulher desse casal é ex do pai de família. Mais um caso de “problemas facilmente solucionados com a não-monogamia”. Boa pedida aos românticos porém cuidado com o famigerado “sozinho não dá nem pra ser corno”.
Caveat Um cara que não lembra lá muita coisa da sua vida, aceita um trampo que parece simples demais: ficar de olho em uma mina perturbada numa casa caquética e abandonada no meio de uma ilha… e ele nem sabe nadar. Risos nervosos. Tensão do começo ao fim, um bom filme para iniciantes no mundinho horror extremo.
Visitor Q Não sei nem por onde começar e nem como avaliar esse filme. Uma família extremamente disfuncional em todos os sentidos POSSÍVEIS, recebem a visita de um cara estranho. E muitas coisas perturbadas acontecem. Só piora a cada minuto. Horror extremo no sentindo PERTURBAÇÃO que honestamente, não sei se vocês deviam ver não rs Takashi Miike, are you ok honey?
High Tension Ainda no mundinho horror extremo (juro que tá tudo bem comigo), temos filme francês sim! Duas amigas vão pra uma fazenda pra estudar mas de repente a luta por sobrevivência é ativada e coisas acontecem. Uma boa construção narrativa e plot twist, ótimo aos fãs de gore e narradores não confiáveis. Um acerto do Alexandre Aja (que tem uns erros no currículo que só pela misericórdia).
Bridget Jones: Mad About the Boy Ficar com o novinho gostoso ou funcionário gostoso da escolha de seus filhos que tem sua faixa etária? Eu escolheria os dois mas quem tem que lidar com a solteirice e romantização da vida não sou eu. Bom ver o Hugh Grant fazendo papel de PIRANHA tantos anos depois. De resto, pelo quentinho nostálgico no coração aos amantes de comédia romântica (não sou eu, risos).
LOLA Duas irmãs inventam uma máquina que recebe transmissões das TVs no futuro e entram num dilema entre usar ao seu favor ou contra a segunda guerra mundial. Scifi found footage. Crítica completa logo menos direto no Boca do Inferno.
Happiness Focado em vários personagens diferentes esse filme é babado fortíssimo. Só gente perturbada, cada um podre de um jeitinho diferente. Mais humano que isso, só olhando dentro da cabeça das pessoas na vida real. Não se engane com o título. Em tempos: que pedrada de retrato humano! (perturbado também, cuidado)
Companion Jovens se reunem na casa de um ricaço, e com a morte dele, coisas acontecem. Um filme sobre consentimento, submissão, uma crítica a visão masculina sobre relacionamentos e a serventia das mulheres, enfim. Como disseram: exterminador do futuro pro povo lgbtqiap+. Da categoria: GOOD FOR HER. Gosto de todas as coisas que critica, é divertido mas tem coisas ali que deixa uma sensação meio meh no final. Os incel vão falar mal porque adivinha…
Network Um apresentador de tv anuncia que daqui uma semana ele vai se matar ao vivo no seu último programa já que vai aposentar. E coisas acontecem. Caralho, ABSOLUTE CINEMA. Foi muito bom rever esse que não envelheceu NADA. As críticas totalmente pertinentes quando falamos de mídia, saúde mental, informação e tantas outras coisas. PEDRADA, BABADO FORTÍSSIMO. Sidney Lumet quase nunca erra né?
Eu preciso espalhar essa palavra (a parte sobre não monogamia. Obrigado por ser tudinho tudinho BatBru