Quando a série estreou na Netflix, fiquei sabendo por conta do meu trabalho. Várias mulheres vieram falar sobre ela em sessão, perguntando se eu tinha assistido e o que achava. Quando três pessoas que atendo falam de uma mesma obra, me obrigo a assistí-la, e foi assim que cheguei em Nobody Wants This.
A série acompanha uma apresentadora de podcast sobre sexo, que numa festa acaba flertando com um cara que mais tarde ela descobre ser um rabino recém solteiro. As diferenças de religião, estilo de vida, família e outras coisas começam a respingar nessa relação que pode dar tudo certo ou tudo errado.
A primeira coisa que eu ouvi é que a série trazia uma sensação de quentinho no coração. Restaurando a fé de que o amor existe e é possível de ser encontrado. Só de ver o rostinho de galã dorky do Adam Brody entendi tudo: que seria uma comédia romântica em que algum momento eu problematizaria algo. Pois bem né, cá estamos.
Joanne é uma mulher independente que parece ter seus princípios bem claros. Seu podcast paga suas contas e ela é aberta a explorar a vida de dates que sabe render boas histórias pros seus ouvintes. Recebe patrocínio de marcas de vibradores. Tem suas amigas, sua irmã etc. Não falta nada… só um namorado. E minha crítica começa aí. Primeiro que faltam obras que acompanhem a vida de uma mulher que possa ser feliz sem estar num relacionamento romântico (principalmente com um homem). Tá tudo bem querer amar e ser amada, mas tá na hora de sair um pouco do molde e atingir outros públicos, né?
Continuando: Noah é personificado como um coitado injustiçado. Ele é só um homem bom, bonito e decente que quer viver um amor… mas quem chegar precisa se encaixar aos seus moldes. A família chata e tóxica tem que aprovar. A religião tem que vir como prioridade. E Joanne… bom, ela é tirada do pedestal da mulher forte e independente pra se tornar a personagem, chata, injusta, ciumenta e caótica. Ela tinha é que ser grata de um homem desse se interessar por ela! Ela que se encaixe, afinal é uma oportunidade única… não vai existir outro Noah! Bom… e realmente é isso que acontece. Acabamos a temporada com Joanne abrindo mão de tudo pra se converter à religião de Noah pra poder ser feliz com ele. (curiosamente uma série lançada no auge do massacre contra a palestina pra limpar a imagem de israel? ora ora)
Uma mulher que faz de tudo pra agradar e ter um homem, inclusive deixar de ser quem ela é. Ao longo dos episódios em prol dessa obsessão por Noah, Joanne acaba brigando com a irmã, a família, as amigas e vive em função de tentar agradá-lo, a família dele e as esposas dos amigos dele. Ela faz de tudo para que todo mundo dê o aval pra essa relação… todo mundo menos as pessoas que sempre estiveram do seu lado. Pensando na cultura machistinha que vivemos, esse é um diálogo muito perigoso pra ainda estar sendo vendido como um caminho aceitável em prol do amor. Principalmente mesclando a questão da religião e se converter… As cenas românticas, a expectativa pros beijos, as falas bem pensadas e os atos são grandiosos pra mascarar esses detalhes. E infelizmente, às mulheres compram esse discurso e deixam os pormenores passarem despercebidos.
Claro que se o Adam Brody olhasse por mais que cinco segundos pra minha cara, minha calcinha já estaria no chão mas… tudo tem limites. E o limite principal, sou eu.
Veja bem, não é que sou contra o amor. Eu sou contra o amor a qualquer custo. Porque a qualquer custo, é um custo alto demais. E sempre quem paga o preço são as mulheres. Pagam com seus valores, sua liberdade, seu tempo, sua individualidade, com serventia&submissão, com a exclusão dos amigos e da família, com a autoestima, com tudo que faz ser ela mesma. Muitas inclusive pagam com a própria vida. Que preço caro né?
Poderíamos entrar numa grande discussão sobre o que é amor de verdade, monogamia, machismo, entre outras coisas pertinentes. Ser culturalmente educada de que a felicidade depende de um relacionamento romântico faz com que muita gente tenha pavor de ficar sozinha. É uma busca constante pelo outro, e ao viver pulando de outro em outro, estar sozinha é um grande pesadelo porque bota uma máscara no autoconhecimento. Quando o outro não é o norte, estar sozinha é ficar perdida em si. Então é muito mais fácil nortear as ações e escolhas por um outro do que olhar pra dentro e encarar as coisas. Aí parece melhor “sofrer de amor” do que qualquer outra dor que faz parte da nossa existência como ser humano individual.
Fora que perdemos todo o senso de comunidade. O capitalismo nessa opressão de qualquer coisa boa que existe, tira cada dia mais essa conexão de grupos e cuidado&suporte mútuo. Isso faz com que a solução mais palpável pareça mesmo o amor romântico monogâmico, que engana com promessas e a premissa de ser mais fácil&rápido. E quem sai perdendo sempre? As mulheres.
A cereja do bolo é que a série é baseada numa história real. Claro que uma obra de ficção, e pra prender o público, é preciso utilizar de muitos tropos e clichês da comédia romântica. Que inclusive segundo críticos, é uma série que fomenta a volta com tudo do gênero no mainstream (como se alguma vez tivesse saído do holofote né). O dinheiro no bolso da galera tá garantido, agora a felicidade das mulheres que acreditam piamente nesse discurso…
Cada um é livre (será?) pra escolher a maneira como deseja se relacionar, mas acho que chegamos em um momento sócio-histórico-cultural onde temos dados&fatos o suficiente pra pelo menos começar a questionar as coisas. Viver de uma ilusão traz ainda mais sofrimento do que as dores comuns da vida real. O amor romântico promete coisas que não cumpre e por isso vemos tantas mulheres que mesmo dentro de relacionamentos são extremamente infelizes. Uma série e um filme tem começo, meio e fim. Suportando apenas mostrar uma fatia não embolorada de um bolo podre.
Com a maturidade a gente aprende que só amor não sustenta relação alguma. E o nosso “felizes para sempre” não se sustenta com uma vida real que não tem hora certa de subir os créditos.
A série foi renovada pra segunda temporada e eu provavelmente vou assistir porque minhas clientes vão assistir. Comédias românticas vão continuar me irritando porque peguei essa mania de botar as coisas em novas perspectivas que geralmente não andam seguindo muito os roteiros prontos que são pregados e distribuídos pra nós por aí.
O amor fabricado de Nobody Wants This, muita gente quer. Eu não quero. Quero ser dona da minha vida, com um amor pautado na liberdade, respeito e principalmente em que eu não precise me converter em nada do que eu não sou. Não precisa ser pra sempre, só precisa não acabar com a minha individualidade. Fico chateada pela trajetória de Joanne na série e o potencial de uma ótima protagonista que foi jogado pelo ralo. E torço pra todas vocês não precisem se apagar pra comprar o amor de ninguém. Que venha de bandeja, leve e farto. E o famigerado, que você possa levantar e se retirar da mesa se não for.
Mangue Negro No meio do mangue, surgem zumbis que aterrorizam a população local que tenta a todo custo sobreviver sobre as adversidades do local. O orçamento é baixo mas a qualidade é altíssima, dá pra ver o carinho e o coração do Rodrigo Aragão nesse filme. O horror BR está vivíssimo!
Come and See Simplesmente o melhor e único filme de guerra possível que existe. Cru, dolorido, cruel e perverso sem floreamento e principalmente sem heroísmo algum. Mostra as consequências e como uma guerra realmente é, sem nenhum filtro ou calhordice hollywoodiana. Absolute cinema!
Wallace & Gromit: Vengeance Most Fowl Gromit nunca errou enquanto Wallace foca demais nas suas invenções sem dinheiro pra pagar as contas. Um filme contra IA mostrando que tem coisas que só humanos fazem, porém com a mensagem sutil (mas pra bom entendedor kkkk). Fofo!
Pitch Black Uma nave cai num planeta deserto e os passageiros ficam com medo do Riddick que é só o Vin Diesel sendo descolado e falando frases de efeito com um toque meio sexualizado mas no fim do dia acaba salvando todos da ameaça extra terrestre. Filme feio, chato, efeitos ruins, estereótipos ridículos, entre tantas coisas mais.
Chime Não entendi absolutamente NADA porém amei absolutamente TUDO? Kiyoshi Kurosawa tem a mentezinha perturbada e mostra isso bem nos seus filmes. Esse aqui é ótimo na atmosfera, na estranheza e no peso existencial. Babado fortíssimo.
Tenebre De longe um dos meus favoritos do Argento! Um serial killer começa matar uma galera que tem a ver com um escritor famoso. O escritor começa ajudar na investigação e… mortes acontecem. Um EXCELENTÍSSIMO giallo, suspense e tudo que esse filme promete pouco mas entrega MUITÍSSIMO!!!!!!! Perfeito, isento de defeitos.
Cidade; Campo Dividido em duas partes. A primeira uma mulher sai de sua cidade inundada pra morar na capital. A segunda uma moça vai pra roça pra assumir a fazenda do seu falecido pai. Gosto muito das nuances, da leveza, dos elementos fantásticos e da sensibilidade aqui. A primeira metade me pegou bem mais.
The Slumber Party Massacre Revisto pra gravar o próximo episódio de Rainhas do Grito! Mas é perfeito e basicamente um dos meus slashers favoritos da vida. O resto dos detalhes da minha opinião você vai ter que ouvir no episódio que sai semana que vem!
Night Tide Um marinheiro se apaixona por uma mulher misteriosa que faz performances fingindo ser uma sereia. Até que ele começa a desconfiar que talvez ela seja uma sereia de verdade. Um terror psicossexual de qualidade, gema escondida no mundinho do cinema noir. Vale muito ver!
Creepy Um detetive escapa de um psicopata e acaba virando professor. Ele é convidado pra ajudar num caso e acaba descobrindo coisas muito próximas de si. Outro do Kurosawa perturbadinho. Mescla bem as coisas e o final me pegou muito mais que boa parte do desenvolvimento que achei lento e se perde um pouco nos caminhos. Como diz o título: Creepy!
Slumber Party Massacre 2 Passa longe da qualidade do primeiro, quase um completo oposto. Garotas de uma banda de rock (YEEEES GRRLSSSS) vão passar o findi num casarão mas uma delas evoca um killer rockeiro gostoso em roupa de couro que a guitarra é uma furadeira mortal. Risos.
Lions Love Mergulhado em total metalinguagem acompanha um trisal de atores que estão fazendo um filme sobre atores. Eu entendi o recado mas honestamente: não poderia me importar menos. Quase perdi a visão de tanto revirar os olhos rs Desculpa Varda :(
Amiga, nem vi a série ainda mas lembrei de um livro que é mais para a comédia, que a personagem a cada novo cara que conhece começa a fazer tudo para gostar das mesmas coisas que ele, é o Louca por homem, da Claudia Tajes, sei que o título é péssimo, kkk, mas lembrei e ri muito quando li.