Meu anjo já vamos começar com um combinado aqui, tá? Você e nem ninguém é obrigado a ter a mesma opinião que eu sobre qualquer obra que seja. Então eu não tô aqui pra falar se o Nosferatu do Eggers é bom ou ruim, o texto vai ser sobre outra coisa, tá bom? Então tá bom.
Uma vez um amigo me disse que assistir filme comigo deveria ser uma experiência horrível. O argumento dele era que por conta da quantidade de filmes que eu vejo, seria possível que eu reparasse em muitas coisas e ficasse cada vez mais criteriosa. E isso resultaria em praticamente ver defeito onde não tem ou estragar a experiência do outro com a minha opinião.
Risos nervosos.
Na realidade o que aconteceu comigo foi exatamente o contrário. Quando adolescente eu era sim a cinéfila pau no cu e hoje sou completamente flexível e gentil com os filmes que vejo. Mas a atitude das pessoas ao redor, parece cada vez pior. Vou generalizar, ok? Explico:
Ninguém gosta de nada. Tudo que é lançado tem apenas um critério pra ser considerado bom: corresponder às expectativas de quem assiste. Fora disso: ruim. Às vezes a gente esquece que devemos trabalhar com aquilo que nos é apresentado e não com o que poderia ser. Difícil avaliar o potencial, sendo que o potencial é uma imaginação e não um fato. E por falar em imaginação, temos a crença seletiva.
Quando assistimos uma obra de ficção, qualquer que seja, devemos entrar naquele universo. Pra isso devemos utilizar a suspensão de descrença. Nada mais é que deixar de lado o ceticismo e a lógica em prol do entretenimento. É lógico que não faz sentido meu cachorro secretamente se transformar em um dragão na minha sala e começar a conversar comigo em português. Mas se isso estiver acontecendo em um filme/livro/série etc eu não vou questionar para poder de fato aproveitar o que estou consumindo. A suspensão da descrença é a BASE e essência de toda e qualquer FICÇÃO, tanto pra você se conectar com aquilo, estar imerso e principalmente SE DIVERTIR.
No filme “A Substância” virou meme as piadas de: como a Sue conseguiu um emprego sem identidade? Como ela de repente reformou um banheiro inteiro sozinha? Como depois de caquética, a Elizabeth conseguiu correr e descer a porrada na Sue? Resposta: NÃO IMPORTA. Dentro do que nos é apresentado, uma obra de ficção e de BODY HORROR, esses são detalhes tão idiotas que não fazem a MÍNIMA diferença pro que é proposto no enredo e questões levantadas. Quando é filminho de super-herói vocês não questionam absolutamente nada né? Por que será i wonder…
Se você quer algo o mais realista possível, assista o jornal com as notícias diárias. Ou veja um documentário (que também pode ser editado pra mudar a sua percepção das coisas… percebe?).
Eu queria que Babygirl tivesse mais cenas de putaria. Não teve.
Tem gente que queria que A Substância não tivesse uma cena tão longa de sangue e nonsense. Não teve.
Eu queria que Frodo & Sam vivessem juntos como um casal com cena dos dois assando pãozinho e beijassem na boca. Não teve.
Uma gata na minha frente queria que Nosferatu não tivesse tanto erotismo (nunca viu um filme de vampiro na vida né fia). E teve. Mesma coisa com o bigode. O que um bigode muda no contexto geral? Porra fucking nenhuma.
Adianta querer? Não! Se não fui eu quem fiz a obra, o máximo que posso fazer é avaliar EXATAMENTE AQUILO QUE ME FOI APRESENTADO. Claro que cada um pode dar seu pitaco. Mas isso não significa que um filme não tem seu valor só porque foi contra suas expectativas. E isso tem tomado uma proporção exagerada. Mais uma vez: parece que ninguém gosta de nada. Nada nunca é bom o suficiente. E muitas vezes por detalhes que, mais outra vez, NÃO IMPORTA!
Longe de mim dizer que todo filme é bom e deveria existir. Mas também tem outros pontos que me irritam nessa linha de pensamento:
O cinema não precisa reinventar a roda. Um milhão de temas podem ser abordados um zilhão de vezes de novo e de novo, basta ser criativo e se atentar a maneira como uma história é contada. Eu adoro receber comentários nas minhas críticas que dizem simplesmente “nada novo”. Sim? Você quer descobrir um novo planeta? Uma sociedade que vive no centro da Terra? Botar um nome escroto numa emoção que já existe só pra patologizar ainda mais a sociedade?
Bram Stoker publicou DRÁCULA pela primeira vez em 1897. De lá pra cá, o livro já teve o vampirão adaptado para mais de 200 versões de filmes. Ou contando com a participação do personagem de uma maneira ou outra, paródias, enfim. Um personagem que já fez mais de 200 aparições. Quantas obras não beberam e ainda vão beber dessa fonte ad eternum? Nunca saberemos números exatos. Mas por que estou falando deste vampirão?
Uma obra ADAPTADA significa que levará elementos já conhecidos e comuns de sua fonte original. Algumas coisas podem mudar, mas o CORE do negócio permanece. O novo Nosferatu é uma versão do Robert Eggers, ou seja, ele pegou algo que já existia e deu o toquezinho dele mantendo uma base que todo mundo já conhece. A gente sabe o que vai acontecer, quem é quem, etc. Se não tiver lá como ROTEIRO ORIGINAL de fulano de tal, como cobrar dessa adaptação que ela não tem “nada de novo”? Não me importa se você achou o ritmo chato, só bonito visualmente, etc etc Mas vocês esperavam O QUE?????
Aí beleza, o Eggers foi lá, disse que colocou um bigodão no bicho porque os CONDES da época em que o personagem “era vivo” tinham bigodes como um símbolo do próprio título social. “Ficou feio”. Risos, galera, vocês tão muito acostumados com Lestat e Anne Rice né? Que se inspirou sabe da onde? Pois é. Aí o próprio Nosferinho nessa versão é todo esburacado, caquético, monstruoso porque adivinha… muitas lendas imaginavam vampiros como demônios e seres monstruosos que serviam pra explicar doenças que até então não tinham explicação, ou seja eles não eram… bonitos como o Antonio Banderas como vampiro Armand.
E ok, eu sei que não precisa justificar nada pra você gostar ou não dos detalhes e qualquer outra coisa sobre o filme, tá tudo bem. Mas entende o quanto parece cada vez mais difícil conversar sobre qualquer obra que seja com as pessoas? Fora a galera que usa os argumentos de: “Ah mas assistiu errado, assiste de novo” ou o melhor “você não entendeu o filme”.
Gosto quando meus amigos ou pessoas que me seguem, dão uma lidinha nas críticas ou minireviews (toda sexta no insta) que escrevo e vêm conversar comigo sobre. Acho válido entender porque um filme “bate” diferente pra cada um, os motivos que as histórias afetam ou não quem assiste. E como disse, gosto da troca mesmo que sejam opiniões opostas. Mas como a internet virou terra de ninguém, parece cada vez mais difícil ter uma conversa saudável sobre essas coisas. É igual aquele meme que não pode gostar de banana porque ofende quem gosta de maçã.
Usei Nosferinho como base pra esse texto porque o filme estreou recentemente e está na boca do povo. Mas poderíamos usar a próxima grande estreia ou qualquer obra antes dele pra exemplificar os tópicos levantados aqui.
No fim, você goste do que quiser pelo motivo que quiser. E desgoste também. Acho que isso aqui nem tem conclusão nenhuma e foi só um desabafo acalorado pra quem sabe assim, a gente coloque a mão na consciência de vez em quando antes de ser chato. Talvez a chata sou eu, quem sabe até a próxima eu melhoro. Enquanto isso, melhore também.
E parem de reclamar do bigode do cara. Vocês já beijaram gente muito pior. Principalmente homem que usa o bigodinho com cera levantado nas pontas em pleno 2025.
Basic Instinct Uma escritora gostosa é suspeita de crimes e o investigador quer investigar mesmo as curvas do corpo da gata. Filme básico pra ensinar que não deve-se misturar prazer&trabalho. Uma farofa com tesão mas eu vivo pela Sharon Stone bissexual, ícone. I support women rights AND wrongs.
The Damned Dei play e veio o filme errado mas vi até o fim, risos. No meio do inverno da guerra civil, soldados ficam no meio do mato falando muito e fazendo pouco. Achei chatíssimo, afinal detesto filme de guerra.
Nosferatu the Vampyre A versão do Herzog tem um lugar especial no meu coração. A Isabelle Adjani que serve até hoje de inspiração pra tantas atrizes está mais uma vez perfeita em tudo o que fez. Eu adoro a melancolia do nosferinho nesse aqui. Maravilhoso.
Wolf’s Hole Que viagem! Um bando de jovem vai pra um acampamento esquiar e de repente descobrem que há um impostor entre eles… um impostor de outro planeta! Estranho, alegórico, tenso… grata surpresa!
Nosferatu Eu amo tudo que o Eggers faz sim! Toda a parte técnica desse filme é simplesmente deslumbrante. Amei que foi longe na para psicossexual pra deixar bem claro qual era o rolê desde sempre. (podia ter até mais tesão ainda inclusive!) A cena final absolute cinema. Ainda assim falta alguma coisinha que não sei o que é, talvez seja porque acho a atuação da Lily Rose-Depp qualquer coisa. Tem todo seu mérito junto com as versões anteriores.
Small Things Like These Um vendedor de carvão começa a desconfiar que o convento tá fazendo alguma merda com um monte de jovens mulheres e acaba virando uma testemunha. Gosto do que critica, amei o Cillian Murphy de “good daddy” mas a abordagem “terceirizada” deixou tudo um pouco frio e distante demais.
Freddy’s Dead: The Final Nightmare Esse aqui eu assisti POR VOCÊS! Pois é sobre ele, o próximo episódio do nosso podcast Rainhas do Grito. Aguardem a review completa que já resumo hein: puta que pariu, difícil viu.
Queer Uma old gay carente fica obcecada por uma new gay twinkzinha e coisas acontecem. Luca é um dos meus diretores favoritos e adorei quando ele botou um pézinho no fantástico enquanto vai fundo no drama. Mais um acerto do querido em tudo: elenco, botar Trent&Atticus na trilha etc etc
What We Do in the Shadows A última temporada tem episódios muito bons e outros bem enche linguiça, mas o final deu uma dorzinha no coração de cair a ficha que acabou.
Eu legitimamente sinto muito por quem não te conhece ao vivo — já que dá pra ler esse texto ouvindo sua voz de PISTOLA ABSOLUTA. 10/10
Eu não vi o Nosferinho então não posso comentar o bigode. Mas o que eu posso comentar é falar de "suspensão de descrença" - eu acho maravilhoso que a gente possa abrir um livro, ver um filme, ler um quadrinho e coisas aconteçam que NÃO ACONTECEM NA REALIDADE. Pq convenhamos, a realidade é meio chata às vezes. O que vai me deixar feliz ou triste com uma obra de ficção é a coerência interna dessa suspensão de descrença. Um cachorro se transforma num dragão? Massa demais. Mas se na mesma obra um personagem toma um puto susto pq um coelho virou um corvo e saiu voando - UÉ, a gente já tinha estabelecido que os bichos mudam de forma né? História de super-herói adora essas putarias de mudar a regra no meio do jogo: "ai o superómi é o homem mais forte do planeta" "agora não é mais" "agora ele é o mais forte de novo". Aí me fode. Nisso eu gosto mt de Doctor Who, pq o cânone de Doctor Who é: não tem cânone. Tudo pode ser verdade ao mesmo tempo. Os cybermen surgiram em Marte. Mas é igualmente verdade que eles surgiram na Terra numa realidade paralela. Eles também surgiram no planeta Mondas (que fica atrás do Sol, então a gente não consegue ver). E numa espaçonave que tá distorcendo o espaço-tempo. E em Telos. TODAS as histórias de origem dos cybermen são canonicamente verdadeiras.